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De desacreditado a campeão: o último Stuttgart a vencer a Bundesliga

Os Suábios entraram na competição como coadjuvantes e saíram coroados. Uma geração jovem que precisou liderar o campeonato por apenas três rodadas para se tornar campeã

DPA
O começo dos anos 2000 trouxe uma mistura de desconfiança e esperança para o Stuttgart. E isso se deve ao fato das constantes oscilações dos alvirrubros, vistas até hoje. Logo após a virada do século, lutaram para evitar o que seria uma segunda queda para a segunda divisão - a primeira foi em 1976. Entre 2002 e 2005, voltaria a figurar o pelotão de cima do campeonato, chegando às competições internacionais nas três oportunidades, mas em 2006, enfraquecido por saídas de peças importantes, voltou a decair.

Sob o comando do renomado Giovanni Trapattoni e posteriormente do modesto e até então desconhecido, Armin Veh, os Suábios fizeram um 2005/06 bem burocrático. Os comandados de Gio e Armin somaram duas eliminações precoces - Copa UEFA e DFB-Pokal - e um vice-campeonato da extinta Copa da Liga na temporada em questão, além de terem terminado a Bundesliga na nona colocação.

Para disputa da época 06/07, uma grande reformulação no plantel foi feita: doze jogadores deixaram o clube e quinze, entre atletas da equipe b, novas contratações e retorno de emprestados, foram acrescidos. O reforço mais caro custou pouco mais de três milhões de euros: Ricardo Osorio, lateral-direito mexicano, adquirido junto ao Cruz Azul.

O elenco do Stuttgart era um mais jovens de toda a liga - a média etária era de cerca de 24 anos- , o que levava a (imprensa, especialistas e afins) crerem que a temporada novamente seria de disputa por meio da tabela como fora na anterior.

Time base de Armin Veh. Dos 23 jogadores escalados na imagem, dez foram formados nas categorias de base do Stuttgart

Timo Hildebrand defendia as cores dos Suábios desde a sua promoção a equipe sênior em 1999. Nesta campanha, disputou 33 dos 34 jogos e não sofreu gol em 13, a terceira melhor marca de sua carreira.


Matthieu Delpierre era o principal ponto de equilíbrio defensivo do Stuttgart junto a Hildebrand. Atuou em 33 das 34 partidas na temporada. Ao seu lado jogava Fernando Meira, que era o capitão. Porém, o português participou de apenas 20 jogos por conta de lesões. Em sua ausência, Serdar Tasci atuava. Mesmo muito jovem e fazendo sua primeira temporada, transmitia segurança. Os laterais Ludovic Magnin e Ricardo Osorio mais marcavam do que apoiavam, o que fortalecia mais o setor. Quem cumpria mais a função ofensiva pelos corredores era Arthur Boka, reserva de Magnin.


Pavel Pardo fazia tudo, construía jogadas e era um baita combatente. Chegou ao clube junto do compatriota Osorio na janela de verão, contratado do América-MEX, e foi o melhor passador da equipe no campeonato, somou 8 assistências. Thomas Hitzlsperger foi um dos jogadores mais participativos em números de gols, onze, sendo 7 de seus próprios pés e 4 assistidos para seus companheiros. Roberto Hilbert e Sami Khedira revezavam no lado direito do meio-campo. Hilbert foi o único do grupo que disputou todas as partidas, sua polivalência e o fato de ter ficado distante de lesões e outros fatores que poderiam tirá-lo de campo foram primordiais para isso. Já Khedira era um dos mais jovens do grupo, mas esbanjava qualidade, armava, desarmava e pisava na área com facilidade, sempre muito participativo. O brasileiro Antonio da Silva era o responsável pelo “último passe” e bolas paradas, disputou 28 jogos e assistiu sete gols.


A dupla de ataque formada por Cacau e Mario Gómez era a principal arma da equipe. Gómez fazia apenas sua segunda temporada como profissional e Cacau a quarta pelo Stuttgart. Juntos fizeram 27 gols na competição. 

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O começo de temporada do Stuttgart foi instável. Entre as primeiras oito rodadas, os Suábios não conseguiram encaixar nenhuma sequência de boas atuações e conquistaram apenas 3 vitórias, sendo duas fora de casa, decididas nos instantes finais. Uma série de quatro triunfos seria engatada pelos alvirrubros a partir da nona rodada, fazendo com que alcançassem a liderança pela primeira vez na décima segunda. O Bayern, que fazia uma temporada bem aquém sob o comando de Felix Magath, foi o responsável por cortar a 'asinha' do Stuttgart na rodada seguinte, em Munique. Os Suábios até saíram vencendo com gol de Mario Gómez, mas acabaram sofrendo a virada e consequentemente o revés.

Ao fim do primeiro turno, uma disputa entre Werder Bremen e Schalke 04 se desenhava. Àquela altura, Werder e Schalke tinham a mesma quantidade de pontos, 36, enquanto Bayern e Stuttgart vinham logo atrás com 33 e 32, respectivamente. O diferencial era o ataque dos Papagaios, que marcou 47 gols na primeira metade da temporada. Com peças remanescentes da conquista de 2004, alguns atletas constantemente convocados para a Nationalmannschaft e o brasileiro Diego em ascensão, o Bremen despontava como favorito, embora o Schalke também tivesse um grande time, com nomes como Manuel Neuer e Mesut Özil, começando suas carreiras, além dos brasileiros, Rafinha e Lincoln, e Kevin Kurányi, centroavante brasileiro-alemão revelado pelo Stuttgart.

Os Suábios voltariam a reascender e decair novamente nos primeiros nove jogos do segundo turno, que começou com derrota para o Nürnberg por 4 a 1, rival que já o havia derrotado na rodada de abertura do campeonato. Foram 4V, 2E e 3D nesse período. Um revés diante o Schalke na 26.ª rodada - última partida do recorte das primeiras nove rodadas do returno - colocaria o Stuttgart a sete pontos de desvantagem em relação aos azuis-reais, que lideravam o campeonato, voltando a indicar que a disputa pela Salva de Prata realmente seria entre os Papagaios e Mineiros, porém, a mudança de esquema proposta por Armin Veh nas oito rodadas decisivas do campeonato aliado a uma melhora no aproveitamento das jogadas fez com que a equipe emplacasse de vez, vencendo todos os confrontos finais.

Bayern, Bochum, Eintracht Frankfurt e especialmente o Borussia Dortmund seriam os grandes "aliados" dos jovens de Baden-Württemberg na reta final da competição. Vitórias dos bávaros e dos Camundongos sobre o Schalke na 27.ª e 31.ª rodada, permitiram a Stuttgart e Bremen diminuírem suas desvantagens pros Mineiros para um e dois pontos. E é aí que entram Frankfurt e Dortmund.

Os Suábios vinham de seis triunfos consecutivos e enfrentariam o Bochum, fora de casa, na penúltima rodada. A esta altura, o Schalke liderava o campeonato com 1 ponto de frente para o VfB e teria de visitar o maior rival no Signal Iduna Park. Enquanto o Werder Bremen, que ocupava o terceiro lugar, receberia o Eintracht no Weserstadion.

Enquanto os alvirrubros cumpriram seu papel vencendo o Bochum por 3 a 2, de virada, os alviverdes e o Schalke 04 sucumbiram diante de seus adversários. As Águias abriram a conta contra os Papagaios aos 13 minutos em gol marcado por Ioannis Amanatidis, meia-campista formado nas divisões base do Stuttgart. Aaron Hunt chegou a empatar o jogo aos 34 da primeira etapa, mas Naldo (contra) daria números finais à partida ao mais tardar. Em Dortmund, derrota dos azuis-reais por 2 a 0.

Assim como na 33.ª, a última rodada do campeonato teve os jogos disputados paralelamente. Enquanto o Schalke enfrentava o Arminia Bielefeld, o Stuttgart travava uma árdua batalha pela glória com o Energie Cottbus.

Tal como na partida contra o Bochum, o Stuttgart saiu atrás no marcador e precisou correr atrás do resultado. O tempo era um forte aliado do Schalke 04 que vencia seu confronto por 2 a 0 quando o Energie estufou as redes do Gottlieb-Daimler-Stadion (antigo nome do estádio do Stuttgart) aos 19 minutos com Sergiu Radu. Àquele instante, o troféu estava ficando com os azuis de Gelsenkirchen. Uma chute de rara felicidade de Thomas Hitzlsperger, seis minutos depois de sua equipe sofrer gol, recolocaria os Suábios no jogo. Passado o primeiro tempo, o prato mais charmoso e desejado da Alemanha já não estava mais nas mãos dos azuis-reais por conta do saldo de gols. O famigerado critério de desempate. Por ironia do destino, o jovem Khedira, que fazia uma partida muito ruim, seria o responsável por selar a vitória e consequentemente a conquista do campeonato, aos 63 minutos, em cabeceio originado de cruzamento do brasileiro Antônio da Silva. 

O Stuttgart voltou a vencer uma Bundesliga após 15 anos, chegando ao quinto título do campeonato nacional. Mario Gómez foi o artilheiro do time com 14 gols (a equipe marcou 61 e sofreu 37, segundo melhor ataque e terceira melhor defesa) e terminou eleito jogador do ano. Alguns dias depois, os Suábios ficariam com o vice-campeonato da DFB-Pokal ao perderem a final para o Nürnberg, rival que já o tinham vencido duas vezes, por 3 a 2 em prorrogação. Ao passar das temporadas, o elenco foi se desmanchando numa espécie de "o último que sair apaga a luz" e o máximo que o clube conseguiu desde então foi um título da extinta Copa Intertoto da UEFA em 2008 e um da segunda divisão em 2017. Veh deixou o cargo em novembro de 2008 e não voltou a conquistar mais troféu algum em sua carreira.


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