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Lothar Emmerich: o homem que fez do Borussia Dortmund o primeiro clube alemão campeão continental

Emmerich comemorando gol em Revierderby vencido pelo Borussia Dortmund por 6 a 2 em 1966. Em 13 jogos contra o Schalke 04, marcou 11 vezes, nesta partida em 66, fez um hat-trick. É o maior artilheiro do Dortmund no confronto
Lothar Emmerich, carinhosamente conhecido como Emma, marcou época vestindo a camisa do Borussia Dortmund. Foram 9 anos atuando com o manto auri-negro. Entre tantos grandes jogadores que vestiram e fizeram história com o uniforme amarelo e preto, Emmerich desponta entre os principais nomes da vasta lista de ídolos do Borussia.

Emma descobriu o futebol cedo. Com 10 anos vestia a camisa do Dorstfelder SC 09. Lá fez toda sua formação como atleta. Aos 18 foi promovido a equipe sênior e logo em seguida foi levado ao Borussia Dortmund por Max Merkel, treinador do clube na época - deu lugar para Hermann Eppenhoff um ano depois.

As três primeiras temporadas com a camisa amarela foram de poucos jogos: 32, mas nada que o impediu de brilhar. O garoto deixou sua marca onze vezes no período. Na última campanha do recorte viu, do lado de fora, o Borussia Dortmund sagrar-se campeão alemão pela terceira vez. Grande destaque da conquista, Jürgen Schütz, deixou o clube na janela de verão de 1963 para se juntar à Roma. O protagonismo se virou para Timo Konietzka, mas abriu espaço para Emmerich. O Dortmund ainda contratou outro atacante, Franz Brungs, junto ao Borussia Mönchengladbach. Os três formaram uma grande parceria. Mesmo à sombra de Konietzka, Emma conseguiu desabrochar seu talento de forma que terminasse como vice-artilheiro e líder de assistências da equipe na temporada 63/64. Ao todo participou de 27 gols, dez deles através de passes. Para o Borussia Dortmund a temporada não foi de conquistas, mas serviu de alento para um futuro próximo - quarto colocado na Bundesliga e semifinalista na Copa dos Campeões (Liga dos Campeões).

Na época seguinte, foi menos participativo, contudo, teve papel fundamental e decisivo na primeira conquista de DFB-Pokal do Dortmund - chegou às redes quatro vezes, todas elas a partir das quartas de final e terminou como artilheiro. O caminho até a decisão reservou ao Borussia duros confrontos ante Preußen Munster (1.ª fase), Tennis Borussia Berlin (2.ª fase) e Nürnberg (semifinal), decididos apenas após os 70 minutos de jogo. Eintracht Braunschweig (quartas) e Alemannia Achen (final) foram os demais rivais da trajetória. Nas outras competições (Bundesliga e Taça das Cidades com Feiras), o Dortmund não conseguiu alcançar voos mais altos. Lothar esteve envolvido em 22 gols - 14 assinalados por ele.

Ao fim da temporada, uma pequena reformulação aconteceu: Konietzka deixou a equipe para rumar ao TSV 1860, Brungs rumou ao Nürnberg e Hermann Eppenhoff saiu para o Meidericher SV (MSV Duisburg). Para o lugar de Timo, Sigfried Held, do Kickers Offenbach, foi contratado. Enquanto Stan Libuda, do Schalke 04, pegou o lugar de Brungs, e Willi Multhaup assumiu a posição à beira do gramado.

Entre 1965 e 1968, Emmerich viveu sua melhor fase, especialmente na temporada 1965/66, onde, junto a Held, levou o Borussia Dortmund à conquista europeia e foi artilheiro da Bundesliga com 31 gols em 34 jogos. Neste espaço de três anos, balançou as redes 75 vezes, em 82 aparições. 

1965/66: Borussia Dortmund vence a Recopa Europeia e se torna o primeiro clube alemão a vencer um campeonato de nível continental

O torneio era disputado entre os clubes vencedores das Copa Nacionais. A Alemanha, como era dividida em duas nações, tinha dois representantes. Na temporada 65/66, o Magdeburg foi o representante do lado oriental. O sistema de disputa era em confrontos mata-mata de duas mãos, partindo de 16 avos de final. A competição foi extinta em 1999. Entre 1972 e 99, o campeão enfrentava o vencedor da Copa dos Campeões/Liga dos Campeões na Supercopa da UEFA. A Alemanha acumula cinco conquistas.

O Dortmund estreou jogando fora de casa contra o Floriana, de Malta. Atuar nos domínios do adversário passou longe de ser um problema para equipe de Willi Multhaup e o resultado foi um singelo 5 a 1. No jogo da volta, uma nova goleada, ainda maior: 8-0. Emmerich marcou 7 dos 13 gols dos aurinegros nos confrontos.

O CSKA Sofia, da Bulgária, viria a ser o rival das oitavas. A partida de ida, em Dortmund, foi vencida pelos donos da casa por 3 a 0. Na Bulgária acabou em 4 a 2 para o Sofia - os “Gêmeos” que descontaram para o Dortmund. Nas quartas de final contra o Atletico de Madrid, Lothar voltou a ser decisivo: anotou os dois tentos da qualificação auri-negra para semifinal - um na Espanha nos instantes finais e outro na Alemanha - 1–1 (1.ª mão) e 1–0 (2.ª mão). O cenário foi semelhante na semifinal diante do West Ham de Bobby Moore e Sir Hurst: dois gols de Emmerich nos minutos finais, na Inglaterra, garantido a vitória por 2 a 1, e mais dois na volta, vencido por 3 a 1.

O adversário na final seria o Liverpool. Como se não bastasse ter de enfrentar um fortissimo esquadrão, o Borussia ainda teria de superar a pressão vinda das arquibancadas. Isto porque o palco do jogo seria o Hampden Park - que tinha capacidade para mais de 100 mil pessoas - em Glasgow, na Escócia, o que facilitaria a migração dos ingleses. Para sorte dos auri-negros, um temporal em Glasgow, um dia antes da decisão, impediu a ida de muitas pessoas, fazendo com que apenas 41,657 torcedores comparecessem. O primeiro tempo foi equilibrado, ambas equipes estiveram perto de abrir o placar, mas não o fizeram. Os gols começariam a aparecer a partir da segunda etapa. Novamente, Held e Emma estariam envolvidos: gol de Held, aos 61 minutos, em belo chute de direita após bola enfiada por Emmerich. Bastariam sete minutos para os Reds empatarem com Roger Hunt. O placar persistiria em ficar igual até o fim do período regulamentar, portanto, prorrogação. No tempo extra, Stan Libuda fechou a conta encobrindo a defesa rival em bola sobrada, fora da área. Os ingleses ainda ameaçariam o gol de Hans Tilkowski, mas de nada adiantaria. Festa dos germânicos, que alguns meses depois perderiam o título mundial para seleção inglesa. 

A campanha do Borussia Dortmund em números: 9 jogos, 7 vitórias, 1 empate e 1 derrota; 27 gols marcados e 9 sofridos — Emmerich e Held juntos fizeram 19 dos 27. O camisa 11 (Emma) foi o artilheiro da competição com 14. Held e Emma formaram uma grande parceria durante o período que atuaram juntos. A dupla foi batizada de “Gêmeos Terríveis” pelos jornais ingleses após a conquista da Recopa.

Jogadores do Borussia Dortmund celebrando a conquista. Lothar Emmerich, à direita, com o prêmio de artilheiro do campeonato. Com o troféu da competição, o capitão Wolfgang Paul
A “Era Emmerich” no Borussia Dortmund chegou ao fim em 1969, quando o atacante transferiu-se ao Beerschot VAV, da Bélgica. Ao longo de 9 anos defendendo a camiseta amarela, disputou 243 partidas, marcou 148 gols e assistiu 43. Números que o condecoram terceiro maior artilheiro e 14.º maior assistente dos aurinegros.

De Bélgica para Áustria. De Áustria de volta à Alemanha

A saída do Dortmund transformou Emmerich no famigerado andarilho — atuou por mais oito clubes até se aposentar em 1981, começando pelo Beerschot, onde permaneceu três temporadas e disputou 68 partidas, chegando à meta 42 vezes. Em sua primeira temporada pelo clube belga, foi artilheiro da liga nacional. O Beerschot foi dissolvido em 2013 devido a problemas financeiros. De lá rumou ao Austria Klagenfurt. A passagem na Áustria foi extremamente positiva no que diz respeito a individualidade: durante os dois anos que lá esteve, brigou pela artilharia do campeonato, embora não tenha conseguido se sagrar em nenhuma delas. Foram 58 jogos e 41 gols. Retornou ao futebol alemão em 1974 ao ser contratado pelo Schweinfurt 05, que à época disputava a segunda divisão. Passou ainda por Würzburger FVWürzburger KickersStift QuernheimSV Neckargerach e Kastel 06. No Würzburger Kickers, Stift Quernheim e no Kastel 06 tinha função de jogador-treinador. 

Mesmo com a idade avançada, conseguiu "sobrar" na segundona por Schweinfurt e Würzburger FV, chegando a artilharia do campeonato uma vez e entre os artilheiros em outras duas oportunidades. Não conseguiu levar nenhuma das equipes até o acesso à elite, mas esteve próximo no primeiro ano pelo Schweinfurt, quando os alviverdes terminaram na terceira colocação do grupo sul da divisão. Pelo Kickers, jogou uma temporada e foi negociado com o Quernheim. Ficou três meses junto aos saxônicos e foi para o Neckargerach. De lá passou para o Kastel, clube no qual encerrou sua carreira.

Curta carreira internacional com a Seleção Alemã Ocidental

Apesar de ter sido um dos grandes jogadores alemães da década de 60, não teve tantas oportunidades na Nationalmannschaft — vestiu a camisa da seleção alemã ocidental apenas cinco vezes. Foi convocado por Helmut Schön pela primeira vez em março de 1966, três meses antes do início do Mundial da Inglaterra. O adversário de sua estreia foi a Holanda, em amistoso. O jogo foi realizado no Stadion Feyenoord sob olhares de 63 mil espectadores. A Alemanha Ocidental venceu sem dificuldades. Aos 7 minutos de jogo já vencia por 1 a 0 com gol de Uwe Seeler. Emmerich ampliou aos 16. Os neerlandeses diminuíram aos 27 e voltaram a marcar aos 47, mas Franz Beckenbauer tratou de garantir o triunfo com gols aos 39 e 50 minutos. 

Emmerich voltaria a ser chamado por Schön na Copa do Mundo e a princípio não era listado como titular - assumiu a posição apenas na terceira rodada da fase de grupos contra a Espanha. Justamente nesta partida que marcou seu segundo e último gol pela seleção, este extremamente importante para classificação da equipe às quartas de final - a Alemanha perdia por 1 a 0 e estava sendo eliminada quando Emmerich empatou o jogo aos 38 minutos. Seeler fechou a conta próximo ao fim da partida, assim decretando a vitória alemã por 2 a 1. Sua despedida do Nationalelf foi na polêmica final contra a Inglaterra.

O pós-aposento das chuteiras

Como boa parte dos ex-jogadores, seguiu no futebol na função de treinador. Dirigiu 13 clubes, a maioria inexpressivos — os melhores trabalhos foram no SV Spabrücken e SC Idar-Oberstein. No Spabrücken conquistou a Landesliga, à época equivalente à quinta divisão. Hoje, equivale a sexto, sétimo e oitavo nível— depende da região. Pelo Idar-Oberstein alcançou duas promoções de divisão: Landesliga (5.ª) para Verbandsliga (4.ª) e por último para Oberliga (3.ª). Deixou as quatro linhas definitivamente em 1999 para voltar ao Borussia Dortmund como coordenador de torcedores. No início de 2003 foi diagnosticado com câncer pulmonar, veio a falecer em agosto aos 61 anos. O seu apelido foi eternizado com o nascimento da abelha Emma, mascote do Borussia Dortmund desde 2005.

*Pela falta de registros, não há números oficiais da quantidade de gols marcados por Emmerich em sua carreira, entretanto, sabe-se que ultrapassa a casa dos trezentos.

Lothar "Emma" Emmerich 
Nascimento: 29 de novembro de 1941 (Dortmund-Dorstfeld, Alemanha)
Morte: 13 de agosto de 2003 (Hemer, Alemanha)
Posição: Atacante
Títulos (jogador): Oberliga (1963); DFB-Pokal (1965); Recopa Europeia (1966)
Equipes que jogou: Dorstfelder SC 09; Borussia Dortmund; Beerschot VAV (Bélgica); Austria Klagenfurt (Áustria); Schweinfurt 05; Würzburger FV; Würzburger Kickers; Stift Quernheim; SV Neckargerach; Kastel 06
Títulos (treinador): Landesliga West (1991) 
Equipes que treinou: Würzburger Kickers, Stift Quernheim, Kastel 06 (jogador-treinador); SpVgg Bayreuth; Mainz 05; Reutlingen 05; Eintracht Bad Kreuznach; Olympia Bocholt; KSV Klein-Karben; SV Spabrücken; SC Idar-Oberstein; SG Weinsheim; TuS Kirchweiler
Artilharias: Bundesliga (1966 e 1967); Recopa Europeia (1966); Liga Belga (1970); 2. Bundesliga Süd (1977)

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