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A vergonha alemã na Rússia: finalizar muito não significa atacar com qualidade


A Copa do Mundo deste ano vem sendo marcada pelas dificuldades enfrentadas pelas seleções tradicionais para superar as defesas adversárias, às vezes fechadas dentro da própria grande área e normalmente bem organizadas. O desafio foi colocado para todas as campeãs mundiais, e apenas a Alemanha não mostrou capacidade de superá-lo, passando uma das maiores vergonhas da sua história em mundiais. Em tese, a Coreia do Sul seria o adversário mais fraco do grupo, mas a equipe de Joachim Löw voltou a oscilar entre a pobreza na criação de jogadas e o desperdício de chances preciosas de gol para sair de campo com uma derrota histórica por 2 a 0.

A Alemanha se despede da Rússia como a equipe que teve a melhor média de finalizações na fase de grupos, com 24 por jogo, 5 a mais que Brasil e Bélgica, que ficam em segundo nesse quesito. Mas esse número foi alcançado muito por conta da postura dos adversários, que ficavam confortáveis cedendo a posse de bola enquanto o resultado os favorecia. Como a equipe de Löw só liderou o placar nesta Copa durante os instantes finais do duelo contra a Suécia, a todo momento ela tinha à sua frente uma retranca para superar, e o contexto das partidas levava a uma pressão alemã mesmo com uma atuação ruim.

Os piores momentos da Alemanha nos três jogos da primeira fase tiveram características semelhantes e cumpriram um roteiro praticamente idêntico. Contra a Coreia do Sul, a equipe novamente teve paciência para tocar a bola de um lado para o outro do campo em busca de espaço mas, ao encontrar problemas para entrar na grande área por não encaixar trocas de passes rápidas, começou a fazer cruzamentos e arriscar o jogo aéreo, principalmente a partir de lances com Kimmich pelo lado direito. À medida que o drama foi aumentando, Joachim Löw lançou suas peças cada vez mais ao ataque e deixou a defesa totalmente vulnerável à contra-ataques, que foram bem aproveitados por Kim Young-Gwon e Son Heung-Min nos acréscimos do segundo tempo.

Finalizações de Toni Kroos contra a Coreia do Sul. Ele somou 15 chutes durante a primeira fase da Copa do Mundo, número menor apenas que o de Neymar. Desse total, apenas três aconteceram de dentro da área (incluindo o gol contra a Suécia). Sem ver seu time conseguir chegar perto da meta, ele precisou arriscar muito de longa distância 

Em meio às trocas de passes improdutivas, Özil chamou atenção. Na maior parte do jogo, mesmo com os resultados adversos no grupo, ele não transparecia uma sensação de urgência e trocou muitos passes burocráticos na partida, além de se movimentar pouco para se livrar da marcação coreana. O início do segundo tempo deu bons sinais, com o meia do Arsenal se aproximando de Reus e acelerando a troca de bolas perto da área adversária para criar chances de gol. Contudo, o nível dele logo caiu e faltou a "dinâmica no terço final" do campo que o próprio Löw cobrou do seu time na entrevista coletiva concedida após a eliminação. Apesar da aparente apatia, Özil foi, de longe, quem teve mais passes para finalização na partida, com 7.

A tal "dinâmica no terço final" do campo foi um problema também contra México e Suécia, e as dificuldades para conseguir chegar perto da meta defendida por Cho Hyun-Woo voltaram a deixar isso claro. Apesar do altíssimo número de finalizações, apenas 5 chutes disparados pela Alemanha de dentro da grande área acertaram o alvo, sendo que 4 deles foram em jogadas aéreas. E aí entra outra falha grave da equipe na vexatória campanha desta Copa do Mundo: muitos chutes deveriam ser melhor aproveitados. A cabeçada - na verdade, a ombrada - de Hummels nos minutos finais quando o placar ainda estava em 0 a 0 foi emblemática, mas outras oportunidades de ouro apareceram e foram jogadas no lixo durante a partida em Kazan, assim como nas duas primeiras do mundial. A criação de jogadas de perigo perto da meta foi pobre, mas a quantidade de finalizações era suficiente para fazer mais do que apenas dois gols durante toda campanha na Rússia, como sugere o tweet abaixo.


A Coreia do Sul iniciou o jogo com uma estratégia ousada na marcação. O time asiático tentou pressionar a saída de jogo alemã, mas cometeu faltas demais pela afobação de tentar roubar uma bola no campo de ataque e encontrar caminho livre até a meta defendida por Neuer. Além disso, a marcação adiantada implicou no surgimento de espaços entre as linhas de defesa, que permitiam a Alemanha acelerar bem algumas jogadas. Sul-coreanos fizeram 16 faltas, sendo 11 no primeiro tempo - e a maioria no campo ofensivo. O que mudou depois do intervalo é que a Coreia do Sul recuou e passou a se proteger com quase todos os seus jogadores à frente ou dentro da grande área.

O contexto se tornou então muito parecido com o da estreia contra o México. Com a vitória da Suécia no outro jogo da 3ª rodada do grupo, a Alemanha se viu na obrigação de vencer o jogo e se lançou totalmente ao campo ofensivo, ficando exposta demais a contra-ataques. Qualquer troca de passes curtos da Coreia do Sul para sair da defesa ao ataque era suficiente para encontrar campo aberto no caminho até a meta defendida por Neuer. A trágica derrota só não se consumou mais cedo porque Hummels e Süle salvaram diversas vezes a equipe, sendo responsáveis por recuperações de bola cruciais durante jogadas em velocidade dos adversários. Nos acréscimos do segundo tempo, nem a dupla de zagueiros foi capaz de evitar o vexame.

A Alemanha esteve sob pressão em todos os momentos dos jogos que disputou na Rússia. E foi inacreditável como a atual campeã mundial não respondeu bem a isso. Os erros tolos de passe e o desperdício das poucas reais chance de gol contra a Coreia do Sul evidenciaram a pobreza no ataque. A atitude de Neuer nos minutos finais do duelo, abandonando completamente o gol, refletiu a desorganização do time e o desespero por ver a eliminação se aproximar. Os últimos amistosos de preparação para a Copa do Mundo deram um sinal de que a campanha poderia ser abaixo da expectativa, mas ninguém esperava tamanho fiasco protagonizado por Joachim Löw e seus 23 convocados na Rússia.

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