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Entrevista com Patrick Monteiro, jogador brasileiro que se aventurou na Oberliga

 

Patrick Monteiro com a camisa do FC Süderelbe (Arquivo Pessoal)

O Brasil é o segundo país com mais jogadores na história da Bundesliga, atrás apenas da própria Alemanha. Destino de vários atletas de nosso país, o futebol alemão é marcado também pela paixão das torcidas e o espírito popular contra o futebol moderno. Nas divisões inferiores, regionalizadas e amadoras, o futebol raiz acontece. E há brasileiros que deixaram suas marcas também por lá para nos contar esse lado do futebol pouco visto. Renúncia, dedicação e uma verdadeira aventura pelo underground alemão.

Em um conteúdo inédito e exclusivo, o Fussball Brasil convidou Patrick Monteiro, um jovem jogador brasileiro, para falar sobre sua aventura na Oberliga, a quinta divisão alemã. 

Nascido no Rio de Janeiro, Patrick começou a jogar com apenas 5 anos na base de clubes cariocas, dentre eles o tradicional Bonsucesso. Já no sub-20, defendeu o Futuro Bem Próximo, onde se tornou atleta profissional em 2017 e jogou as divisões inferiores do Campeonato Carioca e a Copa Rio. Passou também por Rio Branco-ES, Vilhavelhense e Barra-ES, em 2019. Após uma breve pausa na pandemia, Patrick Monteiro recebeu uma proposta para atuar no FC Süderelbe, da Oberliga Hamburgo, onde sua aventura futebolística começou na Alemanha!

Patrick Monteiro em ação pelo FC Süderelbe na Oberliga Hamburgo (Arquivo Pessoal)

Confira a nossa entrevista com o brasileiro:

É muito comum sabermos dos jogadores como é jogar na Bundesliga, então queria perguntar: como é jogar na Oberliga? O futebol é jogado com bom nível técnico e tático?

"A Oberliga Hamburgo é um campeonato regional mas muito bem organizado, os clubes são bem estruturados. A questão tática chamou muito a atenção, pois os clubes prezam muito pela parte tática por lá."

Como você avalia a estrutura do futebol alemão na quinta divisão, a estrutura dos clubes, dos estádios, a organização e a visibilidade?

"Eu me surpreendi com a estrutura. Me falaram que eu jogaria num clube de quinta divisão e todos os times tinham estádios próprios. Muita diferença do que vi jogando no Rio de Janeiro. Clubes que tem três campos de treinamento, toda estrutura necessária, isso me surpreendeu muito positivamente."

Como você enxerga a cultura do futebol na Alemanha e como os torcedores e o povo alemão vivem o esporte?

"Pelo que eu vi o futebol dá sentido pro povo. Todo mundo é muito antenado. Fiquei impressionado com a quantidade de torcedores que os times pequenos tem. Em um jogo contra o Altona 96 o estádio tava cheio, parecendo uma final de Campeonato Carioca. Os torcedores gostam de ir pra beber e encontrar os amigos, é uma alegria!"

Como foi seu o dia a dia na Alemanha e em Hamburgo? Teve dificuldades com o idioma? Conte sobre sua adaptação ao país.

"Minha adaptação foi rápida, tudo muito precoce. Já cheguei e dois dias depois tinha que treinar. Um baque muito grande que tive foi com o frio. Cheguei em Outubro, já estava esfriando. A adaptação com idioma foi um pouco difícil no começo, mas tinham brasileiros e portugueses pra ajudar. O inglês também me ajudou. Mas a maior dificuldade foi o frio, saí do Rio com 30 graus e cheguei lá com 5. Em um treino o treinador me perguntou se eu estava cansado e falei que era o frio. Mas fui me adaptando, o treinador entendeu e me deu mais tempo pra me adaptar. Em três semanas já tava adaptado."

Como foi a sua passagem pelo FC Süderelbe?

"Avalio minha passagem como boa. Poderia ser melhor. Tivemos chances de ganhar títulos, mas acabamos deixando passar. Cheguei em Outubro com o time no meio de tabela e tinha a oportunidade de disputar os playoffs. Acabamos perdendo. Na outra temporada o objetivo era subir e acabamos não conseguindo. Mas foi uma boa passagem, fiz bons jogos, cativei pessoas lá. Foi uma passagem sem títulos, mas considero que muito boa."

É possível viver somente do futebol jogando na Oberliga? Ou é necessário ter algum outro tipo de trabalho ou renda complementar?

"O salário não é dos maiores. É sim necessário trabalhar, não dá pra viver somente jogando a Oberliga. Com o salário pago nos clubes, você consegue fazer algumas coisas, mas não tudo. Pelo fato de ser estrangeiro, me pagavam um pouco mais, mas ainda assim não era o suficiente. Eu casei, voltei ao Brasil e levei minha esposa pra Alemanha. Conversando com meus colegas no vestiário, pude ver que todos os jogadores trabalham por fora e jogam futebol para complementar a renda.

Sabemos que o sonho de todo jogador de futebol é ter visibilidade e alcançar grandes feitos, jogando nos maiores clubes do país. Você acha que é possível um jogador sair da Oberliga e chegar a jogar na Bundesliga?

"Acho que é possível. Não é fácil, mas é possível sim. Com o trabalho, a dedicação, podemos alcançar isso. Mas é um trabalho de 'formiguinha', um passo de cada vez, não adianta se desesperar se não acontecer. É possível, mas não é fácil."

Jogadores brasileiros sempre foram muito bem quistos na Alemanha, sendo a segunda nacionalidade mais popular da Bundesliga. Entretanto, nos últimos anos o número de brasileiros atuando no futebol alemão diminuiu drasticamente. Você sentiu isso por lá? Como você sentiu o tratamento dos alemães a você por ser brasileiro?

"Assim que eu cheguei, todo mundo perguntava se eu jogava igual o Neymar. E eu falava que tava muito longe por ser zagueiro. Eles tratam muito bem o brasileiro, depositam bastante esperança, esperam que você seja o Neymar. Vi poucos brasileiros, o brasileiro ficou taxado como 'cai cai', 'fala muito', briguento... Vi muitos falarem isso pra mim, tem esse estereótipo."

Durante o período em que viveu na Alemanha, você chegou a ir a um estádio ver uma partida da Bundesliga? Ou de outro campeonato?

"Fui no jogo do Hamburgo SV contra o Sandhausen! Achei maneiro demais, o estádio estava lotado, se não me engano foi o último jogo antes da parada pra Copa do Mundo. O Hamburgo venceu de virada, foi uma experiência diferente participar daquilo. Meu objetivo era ir no jogo do FC Bayern na Champions, mas os ingressos esgotaram, então fui ver o Hamburgo e foi massa, top demais!"

Hoje você está no Brasil. Você gostaria de voltar a atuar na Alemanha? Como você projeta seus próximos passos?

"Tenho o desejo de voltar a jogar na Alemanha, se pintar uma proposta seria bom. Minha prioridade seria a Alemanha, por conhecer o país, mas também vejo Portugal como boa opção. Mas claro que voltaria pra Alemanha, com preferência a divisões maiores dessa vez."

Qual é o seu maior objetivo, o maior desejo profissionalmente falando?

"Meu maior objetivo é jogar em uma grande liga, em um grande clube, poder dar um futuro melhor para a minha família e poder fazer um pouco de história no futebol!"

Deixe uma mensagem para os jovens brasileiros que sonham em se aventurar na Alemanha e na Europa e ter uma experiência valiosa como essa:

"Pra quem sonha em jogar na Alemanha, na Europa, tem que ter perseverança e fé, manter os pés no chão, que as coisas vão acontecendo. Focar no objetivo principal que é vencer, chegar no objetivo.

A palavra principal pra todos que sonham é perseverança. Se não der na primeira, vai dar na segunda, e se não der, vai dar na terceira. Continuem tentando!"

Patrick Monteiro em uma seleção de melhores jogadores da Oberliga Hamburgo (Arquivo Pessoal)

Por fim, o Fussball Brasil agradece ao Patrick pela entrevista, por toda disponibilidade e simpatia conosco e deseja o melhor para o seu futuro!

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