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O Bayer Leverkusen de Xabi Alonso

Após péssimo início de temporada, o Leverkusen trocou de treinador e viu seus resultados melhorarem


O Bayer Leverkusen terminou a temporada 21/22 em alta, ao garantir uma vaga na edição atual da UEFA Champions League e assegurar a permanência de suas principais estrelas. O trabalho de Gerardo Seoane também foi mantido e a expectativa do clube para 22/23 era seguir brigando na parte superior da tabela. No entanto, a temporada começou de maneira turbulenta: além da eliminação para o SV Elversberg (da terceira divisão) logo na estreia da DFB Pokal, o Leverkusen conquistou apenas 5 pontos nas 8 primeiras rodadas da Bundesliga e a diretoria optou por uma troca no comando técnico.

O nome escolhido para recuperar o time foi Xabi Alonso. Apesar da pouca experiência como treinador (Real Madrid sub-14 e Real Sociedad B), o espanhol de 41 anos recebeu a confiança da diretoria e chegou com a missão de levantar o clube novamente. 

Xabi Alonso assumiu o Leverkusen em outubro - Foto: Lars Baron/Getty Images

Até então, o desafio tem sido cumprido com louvor: ao considerarmos os resultados da Bundesliga desde que Alonso assumiu, o Leverkusen tem a terceira melhor campanha do período, atrás apenas de Bayern e Borussia Dortmund.

Classificação da "Era Xabi"

Atualmente, o Leverkusen vem de uma sequência de 5 vitórias seguidas na Bundesliga e ocupa a sexta posição na tabela, dentro da zona de classificação para competições internacionais. Considerando todas as competições (o clube segue vivo na Europa League), o Leverkusen atingiu a maior sequência de vitórias (7) de sua história, desde que chegou à Bundesliga em 1979. Essa sequência foi interrompida quinta-feira (13/04), no empate em 1-1 contra o Union Saint-Gilloise.

Como joga o Leverkusen?

Xabi Alonso tem organizado o Leverkusen quase sempre a partir de um esquema com 3 zagueiros - existe uma variação para uma linha defensiva com 4 jogadores, mas ela foi utilizada em poucas partidas até aqui. Há alguma alternância entre os nomes que frequentam o time titular, mas o espanhol já foi capaz de montar um time base e tem em Tapsoba, Andrich, Frimpong e Diaby nomes de confiança. O retorno de Florian Wirtz também foi um acréscimo importante e ele tem feito funções diferentes no ataque a depender da partida.

A formação base do Leverkusen

Construção e o funcionamento dos alas

Ao sair jogando a partir do goleiro, o Leverkusen conta com seus alas cumprindo diferentes funções: pela esquerda, Bakker/Hincapié geralmente ocupam posições mais baixas para participar da construção, enquanto que Frimpong se posiciona bem avançado, quase como um ponta. Nesse cenário, o zagueiro pela direita é quem ocupa o corredor lateral, formando uma linha com 4 jogadores. Dentro dessa estrutura, o Leverkusen busca encontrar seus dois volantes (à frente da linha defensiva) para então acelerar o jogo pelas duas alas.

Os dois alas tem funções diferentes na 1a fase de construção

Nesse contexto, Frimpong tem brilhado. O lateral direito fez uma temporada muito boa (1G e 6A) em 21/22 e tem aproveitado a liberdade concedida por Xabi Alonso para subir ainda mais sua produção ofensiva: até o presente momento, ele registra 8 gols e 6 assistências na Bundesliga. Dono de uma aceleração impressionante, Frimpong se destaca pela capacidade de drible, mudança de direção e condução em velocidade, além de ter desenvolvido um bom timing para atacar a área. 

O treinador espanhol reconheceu as características do lateral holandês e tem feito bom uso delas no ataque, aproveitando a segurança defensiva que os 3 zagueiros oferecem na cobertura. O impacto dessas características, aliadas ao seu novo posicionamento em campo, pode ser visto nos números: ao compararmos seus dados contra outros defensores e alas das 5 principais ligas da Europa, Frimpong figura entre os melhores da posição em quase todas as métricas ofensivas.

O novo posicionamento de Frimpong disparou seus números ofensivos

Criação de chances a partir de ataques em profundidade

Ainda partindo do campo de defesa, o Leverkusen frequentemente faz uso dos jogadores velozes que tem para atrair a marcação e então atacar em profundidade. Isso acontece principalmente a partir de movimentos coordenados de Frimpong e Diaby, dois dos jogadores mais rápidos da liga. Os dois costumam se associar pelo setor direito e tem bom entendimento para ocupar os espaços gerados por cada um. É comum que um deles recue pela lateral para oferecer uma opção de passe, arrastando um marcador consigo: ao receber a bola, escoram rapidamente e usam sua aceleração para disparar no espaço criado pela movimentação do defensor. Esse espaço também pode ser explorado por um algum dos atacantes.

No exemplo abaixo, Diaby (neste caso, atuando pela esquerda) recua para receber um passe do ala e arrasta consigo o zagueiro do Schalke 04. Ele escora a bola com um único toque e imediatamente orienta seu corpo para começar a correr nas costas do adversário, esperando um lançamento em profundidade - nessa oportunidade o passe não vem, mas a intenção estava ali.

Atrair e atacar o espaço é uma das maneiras do Leverkusen criar - Foto: SetantaSports/editada

Alternativa pelo centro

O retorno de Florian Wirtz ao time após vários meses afastado por uma grave lesão no joelho ofereceu uma nova alternativa ao time de Xabi Alonso, pela grande capacidade criativa que possui. Atuando como falso nove, em posição central no ataque, ou como um dos pontas no 3-4-2-1, o jovem alemão constantemente recua para receber a bola por trás dos volantes adversários, antes de girar e conduzir até arriscar um passe em profundidade, geralmente buscando os alas e pontas correndo contra a linha defensiva.

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Estrutura de pressão

A forma como Xabi Alonso organizou seu sistema de marcação e pressão também tem sido outro ponto de destaque na campanha de recuperação do clube. Tipicamente, o Leverkusen opta por se defender em um bloco médio, mantendo seus atacantes mais avançados, a frente da dupla de volantes: esse quinteto encaixota os volantes adversários, limitando a progressão pelo centro e forçando passes para a lateral, onde uma armadilha é acionada. Sempre que o adversário indica um possível passe por ali, os alas do Leverkusen começam a correr para pressionar o receptor da bola e o quinteto se desloca horizontalmente, congestionando o setor e forçando um erro. 

A estrutura de pressão do Leverkusen

Até que a bola chegue ao corredor lateral, a pressão exercida pelo Leverkusen não é da mais agressivas, optando por recuar e permitir que os zagueiros avancem quase ao meio campo, trocando passes entre si. O foco principal está em fechar as linhas de passes por dentro para pressionar de maneira mais intensa quando o adversário é induzido à sua armadilha de pressão. Permitir que os defensores ganhem terreno até certo ponto é uma maneira que Xabi Alonso encontrou para poder explorar a velocidade de seus jogadores em uma possível transição ofensiva, já que terá mais espaço disponível para atacar.

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Essa estrutura, aliás, foi utilizada com muito sucesso por algumas equipes da Alemanha nesta temporada (o Eintracht Frankfurt se notabilizou por isso no início da Bundesliga). Existe o risco de que a entrada da área acabe desprotegida caso o time adversário consiga entrar por dentro e um dos volantes seja arrastado (por vezes a coordenação entre Adli, Wirtz e Diaby não é das melhores e as linhas de passes acabam sendo abertas), mas um dos benefícios dessa estrutura é a posição avançada em que deixa seu trio de ataque, pronto para atacar as costas da defesa adversária após retomada no campo defensivo - pelas características do trio ofensivo do Leverkusen, é algo que faz bastante sentido. 

O funcionamento desse estilo de pressão também passa bastante pela presença de Andrich e Palacios, dois volantes com capacidade para cobrir grandes faixas do campo e muita força nos duelos defensivos. Somando disputas aéreas e por baixo, os dois vencem cerca de 60% das disputas em que estão diretamente envolvidos. Os dois são volantes de bastante vigor físico e costumam recuperar um número elevado de bolas por partida - além disso, o argentino também tem qualidade com a bola no pé e auxilia na progressão de jogadas quando necessário.

Transições em alta velocidade ao recuperar a posse

Atrair e atacar o espaço é também uma das ideias do Leverkusen em momentos de transição ofensiva, ao recuperar a posse de bola. No exemplo abaixo, um passe errado de Goretkza cai na direção de Adli, o ponta rapidamente escora a bola para outro companheiro e orienta seu corpo para começar a correr nas costas do zagueiro adversário, esperando um lançamento em profundidade.

O Leverkusen acelera ao recuperar a posse

A UCL é um sonho real

O péssimo começo de temporada parecia ter atrapalhado todas as pretensões do Leverkusen para a temporada, restando ao clube apenas buscar a permanência na primeira divisão de maneira tranquila. 6 meses após a contratação de Xabi Alonso, no entanto, uma vaga no G4 - e na próxima edição da UCL, consequentemente - já não parece um sonho tão distante assim. Até o início da rodada 28, o Leverkusen se encontra a 5 pontos de distância do Leipzig (4° colocado) e tem um confronto direto, em sua casa, a disputar. Além disso, avançou para as quartas de final da Europa League (empatou o jogo de ida contra o Union Saint-Gilloise) e pode buscar o título continental. São apenas os primeiros passos da carreira profissional de Xabi Alonso, mas o trabalho no Leverkusen já dá mostras de que ele pode ser um treinador de sucesso.

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