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Brasil na terra do Chucrute: as brasileiras que atuaram na Frauen-Bundesliga

Lenda do futebol brasileiro, a atacante Cris Rozeira foi a primeira a encarar o inverno alemão para brilhar na Frauen-Bundesliga

Cristiane Rozeira celebra após marcar o segundo gol da Seleção Brasileira Feminina diante a Áustralia em partida válida pela Copa do Mundo da FIFA de 2019 (Photo by Elsa/Getty Images via OneFootball)

Mudar-se para o futebol alemão é sempre uma tarefa complicada. Embora vejamos com certa frequência jogadores brasileiros fazendo este caminho, o cenário é outro entre as mulheres. É claro que, muito se deve a sub-valorização da modalidade no Brasil, mesmo nos dias atuais.

Não é segredo para ninguém que construir uma carreira no exterior é muito difícil, seja por razões culturais, visibilidade ou até o desenvolvimento do campeonato em que se joga. No futebol feminino, é ainda pior, por razões óbvias: investimento, condições precárias, machismo, entre outros fatores. 

Hoje, são três atletas brasileiras na disputa da Frauen-Bundesliga: Leticia Santos (Eintracht Frankfurt), Ivana Fuso (Bayer Leverkusen) e Tainara (Bayern). Pode parecer pouco, mas é um número expressivo, visto que, em pouco mais de 30 anos de competição, somente outras seis brasileiras a jogaram: Bárbara Barbosa, Carol Carioca, Cristiane Pezzato, Cristiane Rozeira, Ester e Paula Silva.

Segunda maior artilheira da história da Seleção Brasileira Feminina, a atacante Cristiane Rozeira foi a primeira a encarar o inverno alemão para brilhar no futebol alemão. Nascida em São Paulo, chegou à Alemanha após se destacar nos Jogos Olímpicos de Atenas. Contratada pelo Turbine Potsdam no início de 2005, a paulista de Osasco atuou durante três anos na Bundesliga. 

Passarinho fora do ninho, Cris teve de enfrentar as saudades de casa, o clima frio do país, a diferente cultura, além de um estilo de jogo oposto ao que estava acostumada. Apesar disso tudo, a brasileira conseguiu sair-se bem. 

Mesmo sem a titularidade absoluta, a atacante obteve bons números vestindo a camisa do Potsdam, onde venceria dois títulos: Bundesliga e Copa da Alemanha – e logo em seu primeiro ano. Foram 17 gols em 30 jogos durante as duas temporadas em que lá esteve antes de transferir ao Wolfsburg, no verão de 2006, para por fim à sua vitoriosa passagem pela Alemanha. Pelas Lobas, a brasileira atuou apenas uma temporada, o suficiente para ir às redes em sete vezes em 20 jogos.

Assim como Cristiane, a ex-zagueira Paula Silva defendeu as cores do Potsdam e do Wolfsburg. Inclusive, nos tempos de Turbine as duas dividiam um apartamento. Ambas trilharam o mesmo caminho: chegaram quase que simultaneamente ao Turbine e encerraram suas passagens na Alemanha ao final da temporada 2006/2007 atuando pelo Wolfsburg. Embora tenha jogado junto a Cris durante todo esse tempo, Paula entrou em campo apenas 15 vezes, todas pelo VfL. 

Xará da Rozeira, Cristiane Pezzato foi outra que atuou pelo Wolfsburg. Tal como a atacante e Paula, Pezzato disputou apenas a temporada 2006/07 pelo alviverde, onde participou de 11 dos 22 jogos da Frauen-Bundesliga. Já Carol Carioca atuou por dois anos na Alemanha, quando defendeu o USV Jena entre 2008 e 2010, porém foi sub-aproveitada. Fez apenas 10 aparições e logo voltou ao futebol brasileiro. Enquanto Bárbara, goleira da Seleção Brasileira e atualmente no Flamengo, e Ester fizeram menos que cinco jogos cada pelo BV Copplenburg, na temporada 2013/14.

Com a chegada de Leticia Santos ao SC Sand em 2016, o Brasil voltou a ter atletas na elite alemã. Hoje, jogadora do Eintracht Frankfurt, a lateral da seleção brasileira viveu muitos altos e baixos nesses seis anos em solo germânico. De diversos jogos no banco a lesões, até um vice-campeonato da DFB-Pokal. Natural de Atibaia, São Paulo, Letícia ganhou projeção no tradicional EC São José, de onde saiu para atuar pelo Avaldsnes IL, da Noruega, antes de rumar ao Sand. De contrato renovado com as Águias até 2024, a paulista vive a expectativa de ser a primeira a atingir a marca de 100 jogos na Bundesliga, o que deve se confirmar na próxima temporada caso a mesma não deixe o país (até o momento em que esse artigo foi escrito, Letícia somava 80 jogos na competição).

Letícia celebra junto a Alexandra Johannsdottir a classificação do Eintracht Frankfurt para final da Copa da Alemanha 2021 (Photo by Stuart Franklin/Getty Images via OneFootball)

Após 15 anos, o Brasil voltou a ter três jogadoras atuando em solo alemão com as chegadas da meia Ivana Fuso e da zagueira Tainara a Frauen-Bundesliga na última janela de transferências. 

Cedida por empréstimo ao Bayer Leverkusen, pelo Manchester United, a teuto-brasileira Ivana Fuso está em sua segunda passagem pelo futebol alemão. Filha de mãe brasileira e pai italiano, Ivana nasceu e cresceu na Alemanha, onde apareceu para o futebol atuando pelo Freiburg, em 2017. Porém, não teve espaço na equipe da Floresta Negra, onde ficou até 2019. 

Após a passagem mal-sucedida pelo SCF, a meio-campista foi jogar no Basel, da Suiça, e de lá se transferiu ao Manchester United. Aos 21 anos, Ivana é uma das apostas para o presente e futuro da Seleção Brasileira Feminina. Em fevereiro de 2021, fez a sua estreia diante a Argentina, quando ainda tinha apenas 19 anos. 

Tainara tornou-se a primeira brasileira da história do Bayern de Munique. Anunciada ao lado de Giovane Élber, um grande ídolo do clube bávaro, a jogadora da seleção está nas graças do torcedor. 

Ex-Bordeaux, a zagueira chegou para suprir a saída de Marina Hegering, que rumou ao Wolfsburg, e tem cumprido muito bem o seu papel. Titular incontestável, Tai é, até o momento, a quarta jogadora do clube com mais minutos disputados na temporada. Uma eventual conquista das bávaras certamente passará muito pelos pés da brasiliense.

Com o expoente crescimento da modalidade, a tendência é que vejamos mais brasileiras atuando na Frauen-Bundesliga nos próximos anos (bom, pelo menos assim esperamos), mas enquanto não acontece, fica aqui o nosso desejo de boa sorte às atletas que hoje nos representam. 

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