Pesquisar

O RB Leipzig de Domenico Tedesco

Após início de temporada conturbado, o RB Leipzig está de volta aos trilhos

    O RB Leipzig perdeu Julian Nagelsmann para o Bayern antes da temporada começar e optou por um nome "caseiro" para o comando técnico do clube em 2021/2022: Jesse Marsch, treinador americano que estava no RB Salzburg, da Áustria. Os primeiros sinais do americano na Alemanha não foram bons, no entanto, e o trabalho foi interrompido antes mesmo da metade da temporada - Marsch deixou o clube após ser derrotado pelo Union Berlin na décima quarta rodada, saindo com 5 vitórias, 3 empates e 6 derrotas, campanha que colocava o clube na 11a posição, 7 pontos atrás do 4° colocado.

    Após sondar nomes como Roger Schmidt (PSV), a direção do clube optou por Domenico Tedesco, treinador ítalo-alemão de 36 anos. Tedesco se destacou na Alemanha ao conduzir o Schalke 04 ao vice-campeonato da Bundesliga 17/18 e, curiosamente, se formou na mesma turma de Nagelsmann, quando estudaram na escola de técnicos da DFB. 

Domenico Tedesco, técnico do Leipzig (Foto: Reprodução/Thomas Eisenhuth via Getty Images)

    Sob seu comando, o RB Leipzig melhorou nas duas áreas do jogo e subiu ao 5° lugar da Bundesliga, além de estar classificado para a semifinal da Copa da Alemanha e também para as quartas de final da UEFA Europa League. Considerando apenas o período em que esteve no clube, o Leipzig de Tedesco tem a segunda melhor campanha da liga, com 7 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Analisando a métrica dos gols esperados (expected goals), os números defensivos do Leipzig com Marsch estariam entre os 5 piores da liga nesse momento - com Tedesco, o clube tem o segundo melhor desempenho.

Desempenho defensivo e ofensivo do Leipzig por rodada

    Como joga o Leipzig?

    Embora ainda esteja experimentando alguns jogadores, geralmente Tedesco tem organizado o RB Leipzig em um 3-4-1-2, formação que parece encaixar bem com grande parte das peças do elenco. Nkunku, em especial, tem se destacado bastante jogando em um dupla de ataque com o português André Silva.

Formação base do Leipzig sob o comando de Tedesco

    Fase ofensiva

    O RB Leipzig tem trabalhado com uma linha de 3 na defesa quase sempre ao iniciar suas jogadas. Se não for pressionado desde o tiro de meta, são os 3 zagueiros que começam a construir. Nesse cenário, os dois alas se posicionam de maneira mais avançada, oferecendo também amplitude ao time - a frente dos zagueiros também está a dupla de volantes, por vezes auxiliada pelo recuo do meia mais avançado.

Saída a 3 (Foto: Reprodução/Football3 - editada)

    Quando o adversário opta por pressionar a saída de bola mais a frente, o Leipzig utiliza o goleiro Gulácsi ativamente na fase de construção, mantendo uma linha de 3 e adiantando o zagueiro central (Orban) para atrás da primeira linha de pressão. Ainda que não seja um especialista no jogo com os pés, o goleiro húngaro se vira bem quando exigido e raramente comete erros graves.

Gulácsi participando ativamente da construção (Foto: Reprodução/Football3 - editada)

    A partir dessa estrutura, o Leipzig costuma atrair a marcação, antes de sair pelas laterais e buscar o apoio de um atacante (geralmente André Silva ou Poulsen) para superar a pressão e progredir no terreno de jogo. Simultaneamente, vários jogadores atacam a última linha de defesa adversária. Esse atacante tem papel fundamental na equipe, sendo responsável por receber de costas e escorar essa bola mais direta para os meio campistas (que chegam de frente para a jogada) ou vencer seu duelo contra o defensor e lançar diretamente seus companheiros em profundidade - alguns dos lances demonstrando esses movimentos estão nesse vídeo

    Essa dinâmica entre a dupla de ataque do Leipzig tem funcionado bastante, gerando vantagens importantes para atacar em transições rápidas - apesar de estar numa temporada menos goleadora, André Silva tem aparecido bem em apoio, facilitando também para que Nkunku possa brilhar.

Complemento entre a dupla de ataque do Leipzig (Foto: Reprodução/Football3 - editada)

    Quando a equipe adversária já se recompôs defensivamente, o Leipzig mantém seus alas bem abertos para atacar, buscando espaçar horizontalmente a linha de defesa para gerar espaço aos meio campistas e atacantes. Geralmente, os ataques são finalizados a partir de um passe ou cruzamento proveniente das laterais, com vários jogadores atacando a área (inclusive o ala do lado oposto).

Posicionamento do Leipzig para atacar (Foto:Reprodução/Football1 - editada)

    Fase defensiva

    Defensivamente, o Leipzig de Tedesco tende a pressionar a equipe adversária já na saída de bola - para isso, o meia mais avançado se junta ao dois atacantes para fechar o centro do campo e forçar o jogo pela lateral, pressionando de dentro para fora. Em um tiro de meta, por exemplo, alguns encaixes individuais podem ser percebidos: os atacantes ficam responsáveis pelos zagueiros mais abertos, o meia pega o zagueiro central ou volante que baixa para auxiliar e os alas vigiam os laterais. É também o meia quem fica responsável por subir a linha ao identificar algum gatilho de pressão (um recuo para o goleiro, por exemplo).

Encaixes individuais de pressão no tiro de meta (Foto:Reprodução/Football3 - editada)

    Ao baixar suas linhas, a equipe do Leipzig se organiza numa estrutura 5-2-1-2, com o recuo dos alas para a linha dos zagueiros. Ocasionalmente, o meia mais avançado se alinha com os outros meias e até mesmo os atacantes ajudam a fechar um dos lados, mas não é a disposição mais comum.

Estrutura defensiva do RB Leipzig em bloco médio/baixo (Foto: Reprodução/Football - editada)

    Dentro dessa estrutura, um ponto importante da marcação do Leipzig é sua agressividade nos duelos: quando o adversário se estabelece no campo ofensivo e tenta criar alguma jogada ou mesmo na pressão alta, os zagueiros e/ou laterais responsáveis pelo setor da bola sobem rapidamente para pressionar o receptor, evitando ceder tempo e espaço para o adversário. Ao pressionar tão agressivamente, a defesa do Leipzig tem sido capaz de reduzir as chances cedidas e melhorou bem seu rendimento defensivo - no entanto, é preciso que cada jogador saiba identificar bem esses momentos, pois um pequeno atraso ao subir pode gerar um espaço a suas costas que será explorado por jogadores de maior nível.

Agressividade na marcação (Foto: Reprodução/Football e Setanta Sports - editado)

    Domenico Tedesco arrumou a casa e recolocou o Leipzig entre as melhores equipes do futebol alemão. Mantendo o desempenho atual, parece razoável dizer que o clube estará na UEFA Champions League da temporada 22/23, o que por si só já seria um belo feito, considerando o início da Bundesliga. Almejando mais, o treinador tem uma grande oportunidade de conquistar seu primeiro título na carreira, restando Union Berlin, Freiburg e Hamburgo na disputa pela Copa da Alemanha e apenas 3 fases (quartas, semi, final) na Europa League. O torcedor do Leipzig tem motivos para sonhar novamente.

Postar um comentário

0 Comentários