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Em meio a covid-19, a solidariedade é marco no futebol alemão

Signal Iduna Park preparado para atender enfermos (Getty)

A Alemanha é o quarto país mais atingido pela doença: pouco mais de 143 mil diagnósticos positivos até a noite de sábado (18) —85 mil contaminados já se encontram recuperados e apenas 4,5 mil morreram. Ao nível de comparação, o Brasil, com “só” 35 mil casos, já registrou mais de 2 mil óbitos. A medida que os dias passam, as coisas pioram por aqui.

Em decreto recente, o governo alemão proibiu que sejam realizados eventos esportivos com a presença de público até o final do mês de agosto, e gradualmente tem liberado a reabertura de comércios pelo país.

Na próxima quinta-feira (23), a Liga Alemã de Futebol (DFL) voltará a se reunir (via videoconferência) com os representantes dos 36 clubes que compõem a Bundesliga para tomar uma nova decisão a respeito do curso da temporada. Caso as autoridades governamentais permitam, é provável que a partir de maio a bola volte a rolar nas duas principais divisões do futebol alemão— e claro, sem a presença de público nos estádios.

Fritz Keller, presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), à Kicker: Sabemos exatamente onde estão as prioridades no momento. É por isso que agimos com rapidez e paramos de jogar até novo aviso. Garantimos que a retomada, inicialmente sem torcedores, não será às custas do sistema de saúde. […] Desde que essa crise surgiu, mantivemos um intercâmbio próximo e regular com políticos. Em todos os níveis, em videoconferências e telefonemas, da Chancelaria Federal aos ministérios, com primeiros-ministros dos estados federais, comunidades e autoridades locais.

De acordo com relatório publicado pela revista Kicker no sábado (18), serão necessários 20 mil testes para que as 9 rodadas restantes dos campeonatos sejam concluídas. O presidente do Schalke 04, Clemens Tönnies, colocou os laboratórios de suas empresas à disposição para criação dos exames. Tönnies possui duas empresas no ramo alimentício e, segundo o próprio, é possível a produção de até 200 mil testes, por mês, nos laboratórios das firmas. Ainda segundo a matéria publicada pela revista, a DFL está considerando a oferta.


Enquanto se espera uma decisão, os clubes abraçam suas regiões e devolvem ao povo, o que recebem do povo: carinho.


A maioria das equipes alemãs, especialmente as que figuram a elite, prestaram algum tipo de apoio para instituições, abrigos, famílias carentes, etc. Tão demonizados por dirigentes, grupos de torcedores Ultras se puseram ao dispor da população.


O Werder Bremen marcou dois golaços na última semana: através do lançamento de camisas especiais, angariou fundos — valor inestimado por se tratar de comercialização de produtos — para famílias da cidade de Bremen, e também anunciou que auxiliará abrigos com refeições diariamente. Por meio da campanha Nur Im Wir, o S04 abriu um canal para doações à micro-empresas de Gelsenkirchen e região, que necessitarão de aporte financeiro, e também dará máscaras para torcedores que realizarem qualquer compra na loja oficial do clube. O Hertha Berlin doou todo o lucro obtido com 300 novas aquisições de planos de sócio torcedor para a Cruz Vermelha Alemã — os torcedores que adquirirem o pacote anual receberão a camisa ‘home’ da temporada. A promoção é válida até 15 de maio e, até lá, todo o dinheiro arrecado com assinaturas anuais será doado à CV.

Werner Gegenbauer, presidente do Hertha Berlin, sobre a ação feita pelo clube: Em uma situação como essa, que ameaça nossa sociedade existencialmente em muitas áreas, temos que permanecer juntos. A Cruz Vermelha está trabalhando incansavelmente para combater o vírus — queremos retribuir com nossa campanha.

O Borussia Dortmund cedeu o setor norte do Signal Iduna Park para ser um centro de tratamento do covid-19, no início do mês de abril, e também fez doações de alimentos: 200 sopas entregues à abrigos que cuidam de sem-tetos e 1400 muffins para um hospital da cidade. Além de ter angariado fundos para pequenas empresas de Dortmund. O Hamburgo abriu vendas de máscaras personalizadas com as cores e emblema do clube a custo de 5 euros — o dinheiro arrecadado será destinado à instituição do clube, Der Hamburger Weg, que cuida de crianças e jovens desfavorecidos da cidade. O VfL Bochum foi mais um que seguiu a linha de venda de produtos: junto a Nike, produziu uma camisa para levantar receitas para ajudar famílias de Bochum. O Bayern ajudou hospitais de Munique através de multa aplicada em Jérôme Boateng por descumprimento do isolamento social. O RB Leipzig criou a iniciativa Wir Alle com o intuito de arrecadar recursos para fundações, e também fez doações financeiras que, somadas, ultrapassam os 150 mil euros.


Wolfsburg, Nürnberg e Eintracht Frankfurt estão ajudando torcedores idosos com despesas mensais de supermercados e remédios: compram e entregam na casa dos fãs o que eles solicitarem. O Wolfs também doou 100 mil máscaras, em parceria com a rede de farmácias Mickefett, para a prefeitura da cidade, e produziu lotes com as cores do clube para os torcedores — até cinco unidades podem ser adquiridas por pessoa. Para retirada das máscaras, é necessário realizar alguma doação em dinheiro — as receitas serão revertidas para financiar e implementar projetos sociais. Toda a ajuda prestada pelos Lobos foi feita através da campanha Wir Helfen.


As máscaras personalizadas com cores e escudo do clube (Wolfsburg)
E vai além de clubes e torcidas, jogadores e gerentes também se solidarizaram. Desde aceites de reduções salariais para aliviar as folhas de pagamentos até ações sociais.


Joshua Kimmich e Leon Goretzka, ambos jogadores do Bayern, criaram a iniciativa We Kick Corona para levantar fundos para instituições de caridade. Muitos jogadores e alguns treinadores abraçaram a causa e, até o momento, mais de 3 milhões de euros foram arrecadados.

Kimmich e Goretzka: Como jogadores de futebol, temos uma vida saudável e privilegiada. Assim, nos sentimos obrigados a assumir a responsabilidade. Cada um de nós pode garantir que o coronavírus não se espalhe mais, mas somente juntos podemos fazer nossa parte para a sociedade se recuperar. Através do We Kick Corona, queremos ajudar e fazer uma contribuição para garantir que nossa sociedade seja tão diversa e forte como antes, mesmo depois da crise.Marco Reus, do Borussia Dortmund, e Adam Szalai, do Mainz 05, foram mais alguns dos jogadores que fizeram doações. Marco ajudou pequenas e médias empresas da cidade de Dortmund com doação de 500 mil euros, através da campanha Help Your Home Town, criada por ele e sua esposa. Já Szalai doou 85 mil euros para hospitais da Hungria (seu país) através da fundação Játékidő Alapítvány, a qual fundou há dois anos.

Marco Reus, do Borussia Dortmund, e Adam Szalai, do Mainz 05, foram mais alguns dos jogadores que fizeram doações. Marco ajudou pequenas e médias empresas da cidade de Dortmund com doação de 500 mil euros, através da campanha Help Your Home Town, criada por ele e sua esposa. Já Szalai doou 85 mil euros para hospitais da Hungria (seu país) através da fundação Játékidő Alapítvány, a qual fundou há dois anos.


Dentro do contexto futebolístico, demorará até a maioria dos clubes se estabilizarem financeiramente. Mas o que verdadeiramente importa é que, neste momento de dificuldade, cumpriram seus papéis. Em tempos de pandemia, é hora de solidariedade. Jogadores, torcedores e clubes entenderam.

“Aguente a maré, maré vai passar. É só você ter fé. A maré só derruba, quem não acredita, quem fala e não faz, quem não luta por conquista. E nessa correnteza, eu sou mais você. É seu dia a dia, que vai fazer você vencer” (Fala Mansa, Maré Brava).


*Lembrado que estas não foram as únicas ações realizadas por clubes e jogadores
**Dados dos contaminados pelo vírus retirados do site Worldometer

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