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Ultras na Alemanha #1 - St. Pauli

O Fussball Brasil lança a série Ultras na Alemanha, que retrata os principais grupos de torcedores organizados do país germânico. Neste conjunto de textos, falamos sobre contextos históricos, política e as características de fãs e rivalidades do futebol alemão em um modo geral. No primeiro texto da série, confira um pouco mais sobre a torcida do Fussball-Club Sankt Pauli von 1910


O bairro de St. Pauli é muito conhecido na cidade de Hamburgo. É lá onde as noites na cidade são mais movimentadas, onde os fãs de rock curtem suas músicas, onde os bares são muito frequentados. Foi lá também que os Beatles deram seus primeiros passos fora da Inglaterra. Mas além disso, o bairro é reduto do FC Sankt Pauli. Famoso clube alemão, conhecido principalmente pelo seu engajamento político e por ter uma torcida também alinhada politicamente, respeitada em solo alemão por conta das festas que costuma promover no Millerntor-Stadion e nas partidas como visitante.

Contexto histórico e político

Nesta série, o foco principal é a torcida. No entanto, se tratando de St. Pauli, acaba sendo inevitável não misturar o clube ao assunto, já que isso ocorre naturalmente. Na década de 80, com a explosão hooligan na Inglaterra, o movimento "respingou" na Alemanha. Vários grupos hooligans surgiram em solo alemão, e claro, na cidade de Hamburgo também. Estes grupos quando surgiram foram vistos como ameaças pelas autoridades por compactuarem com ideais extremistas, inclusive flertando diretamente com o neonazismo. O Hamburger SV, clube local mais vitorioso, acabou sendo o grande afetado na cidade por estes grupos de indivíduos, e isso fez com que movimentos opostos começassem a surgir no rival St. Pauli. O movimento Ultra surgiu na Alemanha no começo deste século, sendo mais alinhado ao progressismo, mas o St. Pauli já levantava esta bandeira há pelo menos uma década antes. 

O Totenkopf, símbolo pirata, virou a bandeira do clube (Divulgação/The Guardian)
A torcida do St. Pauli, ainda na década de 80, adotou o Totenkopf, símbolo Pirata que também é utilizado pelo próprio clube. A bandeira com uma caveira se tornou a personificação da luta contra o racismo, a homofobia e o fascismo, principalmente. Ao longo dos anos, os Ultras do St. Pauli construíram amizades sólidas na Europa com torcidas que lutam pelos mesmos ideais. O Celtic, da Escócia, e o Hapoel Tel Aviv, de Israel, são os principais aliados. Há ainda os torcedores mais radicais que simplesmente decidiram abandonar o clube por acharem que o mesmo se vendeu ao futebol moderno e migraram para o Altona 93, modesto clube situado ao sul de Hamburgo que virou reduto de torcedores ainda mais undergrounds. 

Rivalidades e arquibancada

Como é sabido, Sankt Pauli e Hamburger SV protagonizam o derby local. Um jogo que é marcado pelo contraste político, pelas diferenças de perfis entre as torcidas e pelo nível técnico e estrutural dos clubes. Enquanto os Dinos são dos mais vitoriosos do futebol alemão, resta os Piratas a fama pelo ativismo político, pois a história do clube dentro das quatro linhas é muito mais modesta. Apesar da grande diferença, a rivalidade é intensa - e tensa - nos poucos encontros entre os clubes. Seja no Millerntor-Stadion ou no Volksparkstadion a certeza é de estádio lotado e muita festa dos dois lados. No último derby, em Setembro de 2019, provocações, pirotecnia e protestos deram o tom a vitória do St. Pauli em casa sobre os grandes rivais após 59 anos.

Torcida e elenco do St. Pauli fizeram a festa com vitória no clássico.
Pode ser que o St. Pauli nunca alcance os grandes títulos do futebol alemão e europeu, mas uma coisa é certa: sua torcida não dá a mínima pra isso. Por enquanto, os Piratas seguem sendo um clube de história modesta, mas com uma torcida pioneira e mais relevante para a trajetória da associação do que qualquer outro personagem.

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