Goleiro brasileiro nos contou como tem sido sua experiência nas academias de um dos clubes mais tradicionais da Alemanha
O Fussball Brasil chega com mais uma entrevista exclusiva, recém-saída do forno, para os apaixonados pelo futebol alemão! E o papo da vez é com um representante de um dos clubes mais tradicionais da Alemanha: o TSV 1860 München. Embora atualmente dispute a 3. Liga, os Leões de Munique seguem vivos na memória dos torcedores por sua rica história no cenário futebolístico do país.
Nesta edição, conversamos com Lucca Kurpjuweit Santos, goleiro brasileiro de 22 anos que integra os times III e IV do 1860 München. Natural de São Paulo, Lucca desembarcou no sul da Alemanha há cerca de dois anos, após trajetória em diversas equipes de base no Brasil, como União Suzano, Jabaquara, Taboão da Serra, Eco Osasco e até o Corinthians, onde defendeu a camisa alvinegra em um campeonato aos 16 anos.
Um fato curioso sobre Lucca é que ele é parente distante de Lothar Kurbjuweit, ex-jogador da seleção da Alemanha Oriental que disputou a Copa do Mundo de 1974. No Brasil, Lucca torce para o Fluminense, paixão herdada do pai, natural de Caxambu, no sul de Minas Gerais — uma região com grande presença de torcedores tricolores. Coincidentemente, o clube carioca enfrentará o Borussia Dortmund na Copa do Mundo de Clubes de 2025.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA:
1- Fussball Brasil - Antes mesmo de chegar na Alemanha, como foi sua experiência no Corinthians?
Lucca Kurpjuweit Santos: Eu jogava nas escolinhas do Corinthians quando era mais novo. Eles faziam alguns testes com os alunos, mas eu nunca havia sido chamado. Até que, um dia, o meu técnico da minha unidade me indicou para participar de um treinamento junto com outro menino que já estava no período de testes. Logo depois, fui aprovado e acabei disputando o Paulista Cup Sub-16 em 2019. Nessa competição, ficamos com o vice-campeonato — perdemos a final para o Flamengo de Guarulhos.
2 - Fussball Brasil - Após a passagem no Corinthians foi quando você decidiu ir para a Alemanha?
Lucca Kurpjuweit: Em seguida, fui para um projeto chamado Futebol Trainer, em Santo André, que oferece treinamentos e realoca jovens jogadores em clubes. Fiquei cerca de três meses por lá e, nesse período, fiz uma viagem com eles. Quando voltei, ingressei no Eco Osasco. Logo depois, veio a pandemia — isso foi em 2020. Ainda passei pelo União Suzano antes de ir para a Alemanha, em 2022.
3 - Fussball Brasil - Como foi sua primeira vez na Alemanha?
Lucca Kurpjuweit: Eu já tinha ido para a Alemanha em 2018. Na ocasião, fui por meio de um intercâmbio para uma cidade bem pequena chamada Halberstadt. Durante esse período, cheguei a jogar por um time local chamando Harsleber SV Germania 08 e disputamos um campeonato, no qual fomos campeões na categoria C-Jugend (Sub-16).
4 - Fussball Brasil - Você já chegou na Alemanha pensando em ingressar em um clube?
Lucca Kurpjuweit: Sempre levei os estudos em paralelo ao meu sonho de me tornar jogador profissional. Aqui em Munique, estou cursando Engenharia Mecânica. Sei que é muito difícil alcançar o profissionalismo no futebol — e, muitas vezes, as pessoas acham que, ao chegar lá, você vai automaticamente ganhar muito dinheiro e estar sempre nos holofotes. Mas a realidade não é bem assim na maioria dos casos. Sempre quis ter uma alternativa de caminho para alcançar o sucesso profissional. Como já tinha raízes na Alemanha, sempre enxerguei o país como uma ótima oportunidade para crescer e me desenvolver, tanto dentro quanto fora dos campos.
5 - Fussball Brasil - Como foi o processo para entrar na equipe do 1860 Munique?
Lucca Kurpjuweit: Cheguei à Alemanha com 19 anos, em 2022, e comecei a pesquisar sobre os clubes de Munique. Foi então que vi uma oportunidade de tentar uma vaga na equipe III do 1860 München. Enviei um e-mail ao corpo técnico do clube, e eles responderam pedindo informações sobre minha idade, posição e experiências anteriores. No entanto, disseram que naquele momento — por volta de outubro de 2022 — não estavam procurando novos jogadores. Mesmo assim, repassei meu histórico, mencionei os clubes por onde passei e reforcei meu interesse. Pouco depois, me chamaram para uma semana de avaliação. Fiz os treinamentos, e ao final desse período, pediram que eu entregasse a carta de rescisão do meu último clube — ou um documento comprovando que não tinha mais vínculo com ele, no caso, o União Suzano. Após entregar a documentação, fui oficialmente integrado ao time em janeiro de 2023.
6 - Fussball Brasil - Como foi o período de testes? Muito diferente do Brasil? Inferior ou Superior?
Lucca Kurpjuweit: Eu, que sempre joguei futebol de base, achei tudo bem diferente quando cheguei ali, já na categoria principal. O nível era bem mais alto — a dinâmica dos atletas é superior, então senti que o nível técnico também era mais elevado. Os treinamentos seguem um roteiro bem definido, com bastante foco em campo reduzido, o que ajuda a melhorar a tática e os passes. Os treinos para goleiro também são bem diferentes. Aqui na Alemanha, há muitas atividades com os pés — mais do que no Brasil. É como se fosse uma regra. No Brasil, isso tem ganhado mais destaque nos últimos anos, mas ainda não é tão comum. No começo, senti bastante essa diferença. Lembro que o treinador me disse: 'Você tem muito potencial, mas ainda não jogou na categoria principal. Precisa ser integrado aos treinos e ir jogando para pegar ritmo.' Só fui começar a jogar mesmo na pré-temporada de 2023, e minha primeira partida oficial aconteceu em abril daquele ano.
7 - Fussball Brasil - Você sentiu diferença no tratamento por ser estrangeiro?
Lucca Kurpjuweit: Eu já falava alemão antes de chegar, então trouxe comigo esse conhecimento da língua. Claro que não falo como um nativo, então, muitas vezes, tinha dificuldade para acompanhar as conversas em grupo — especialmente quando falavam rápido ou faziam piadas entre eles. Mas sempre fui muito bem tratado. Os colegas faziam brincadeiras, falavam do Ronaldinho, do Neymar, do “jogo bonito”... E até do Luva de Pedreiro! Chegaram a me apelidar de “Receba”. Foi sempre num clima leve e respeitoso. Apesar disso, sei que o processo de integração pode ser difícil. Não sou dos que mais falam aqui. Tenho um amigo mais próximo, que é um goleiro teuto-croata, e isso ajuda. Às vezes fico mais na minha, mas também entro nas brincadeiras. No começo, dentro de campo, eu ficava meio perdido sobre o que falar durante o jogo — que termos usar, como orientar meus defensores... Tive um pouco de dificuldade nisso, principalmente por ser goleiro, já que a comunicação é uma parte essencial da função. Mas com o tempo fui pegando o jeito.
8 - Fussball Brasil - Quais campeonatos você já disputou?
9 - Fussball Brasil - Há jogadores veteranos na equipe II e IV?
Lucca Kurpjuweit: No 1860 II, a equipe é voltada para jogadores até 21 anos. Já nas equipes III e IV não há restrição de idade — temos atletas com mais de 30 anos atuando regularmente. Os capitães, inclusive, costumam ser jogadores mais experientes. Um exemplo é um goleiro que está beirando os 40 anos e já integrou a seleção senegalesa. Ou seja, é um grupo bem variado em termos de idade e trajetória no futebol.
10 - Fussball Brasil - Apesar das diferenças atuais, como fica a rivalidade com o FC Bayern de Munique?
Lucca Kurpjuweit - A rivalidade entre as torcidas do 1860 München e do FC Bayern é bem acirrada, especialmente entre os mais fanáticos. A torcida do 1860 realmente não suporta o Bayern, e os ultras do Bayern também não têm nenhuma simpatia pelo 1860. Já o público mais geral costuma ser mais indiferente a essa rivalidade. Mas, para quem é mais envolvido, o atrito é forte. Eu mesmo gosto bastante de representar o 1860 sempre que posso. Uma vez fui à barraca da Paulaner — patrocinadora do Bayern — durante a Oktoberfest, e alguns torcedores do Bayern começaram a cantar músicas do clube. Aí, sozinho, comecei a cantar as músicas do 1860. Eles tiraram um sarro, mas nada demais, tudo ficou no bom humor. No geral, acredito que a torcida do 1860 é quem mais alimenta essa rivalidade. Eles fazem mais cânticos provocativos e mantêm essa cultura de oposição bem viva. Um exemplo disso é o costume de colar adesivos do 1860 por cima dos adesivos do Bayern pelas ruas da cidade — uma pequena amostra de como essa disputa vai além dos estádios através da cultura dos adesivos.
11 - Fussball Brasil - O 1860 München é bastante conhecido também por ter revelados alguns nomes bem conhecidos do futebol alemão, como é a visão formadora dos Leões de Munique?
12 - Fussball Brasil - Você também jogou pela equipe de futsal do 1860?
13 - Fussball Brasil - Você já treinou com a equipe principal?
Lucca Kurpjuweit: Já tive contato, mas nunca cheguei a treinar com a equipe principal. Vejo com frequência os atletas, o técnico e os diretores por aqui. Inclusive, jogo com o irmão mais velho do Marco Hiller, que é o goleiro do time principal. Ele também é goleiro e, atualmente, está em processo de transição para se tornar treinador de goleiros.
14 - Fussball Brasil - Quem é a sua grande inspiração como goleiro? Internacional e também nacional.
Lucca Kurpjuweit: Minha maior referência é o Yann Sommer (Inter de Milão), mesmo não tendo tanta estatura, sou mais ou menos da estatura dele. O Sommer é muito subestimado desde os tempos do Borussia Mönchengladbach, inclusive torço para que a Inter seja campeã da UEFA Champions League por ele. Também sempre gostei bastante do Diego Cavalieri, sou torcedor do Fluminense, gostava muito dele. E ultimamente do Fábio, afirmo que ele é o melhor goleiro do Brasil.
15 - Fussball Brasil - Qual é o jogador do futebol alemão que se goste muito na atualidade?
Lucca Kurpjuweit: Florian Wirtz. Acho ele muito bom, muito completo. Gosto muito do Granit Xhaka, sempre gostei do futebol suíço, gosto de muito jogadores eu vieram de lá. Eu gosto de acompanhar alguns jogos do Bayer Leverkusen. Acho também o Musiala bom jogador, mais um pouco inconstante, mas é a outra grande revelação da Alemanha ao lado do Wirtz.
16 - Fussball Brasil - Qual seleção você acha mais preparada agora, Brasil ou Alemanha?
17 - Fussball Brasil - Como foi viver a EURO 2024 estando na Alemanha?
Lucca Kurpjuweit: Foi uma experiência muito bacana! A Alemanha é um país multicultural, então havia pessoas de várias partes do mundo. Todos se reuniam nas Fanzones para assistir aos jogos — torcedores de diferentes nações juntos, criando um ambiente muito especial e vibrante. O clima também era muito bom ser verão, ficou aquele clima bem especial nas ruas, lembrando um pouco Copa do Mundo. Por exemplo, na época da Copa do Mundo de 2022, no Catar, aqui foi muito mais pacato até por ser inverno.
18 - Fussball Brasil - Você tem o objetivo de chegar na equipe principal do 1860 München?
Lucca Kurpjuweit: Sim, é um objetivo que eu tenho, mas sigo conciliando com os estudos. Pela minha idade, já não posso mais atuar pela equipe II, então dar um salto direto para o time principal é algo bastante difícil. Gostaria, sim, de ter a oportunidade de jogar pela equipe principal, mas sei que não é simples — o caminho é complicado e exige muito.
19 - Fussball Brasil - Você acha que o Fluminense tem chances contra o Borussia Dortmund?
Lucca Kurpjuweit: Acredito que o Fluminense tem condições de vencer. O Borussia Dortmund não fez uma grande campanha na Bundesliga, embora tenha se saído melhor na Champions League. O Fluminense também vinha mal sob o comando do Mano Menezes, mas vamos ver como será com o Renato Gaúcho — eu gosto dele, acho que pode dar uma nova cara ao time. E, sinceramente, é bem a cara do Fluminense vencer o Borussia Dortmund… e depois perder para o Ulsan Hyundai! (risos).
Essa foi a entrevista com o jovem goleiro brasileiro Lucca Kurpjuweit Santos, realizada no dia 2 de abril de 2025. Agradecemos ao Lucca pela disponibilidade, cordialidade e atenção durante toda a conversa. Siga o Fussball Brasil no Instagram e no Twitter (X) para continuar acompanhando tudo sobre o futebol alemão!
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