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Hugo Ekitiké, a flecha do Eintracht Frankfurt

Análise tática: conheça as virtudes do atacante francês

O forte começo de temporada do Eintracht Frankfurt (terceiro colocado na Bundesliga, com quatro vitórias em seis partidas) colocou sua dupla de atacantes em evidência: Omar Marmoush (25) e Hugo Ekitiké (22) tem formado uma parceria de fazer inveja a vários outros clubes de Europa. O egípcio mostrava flashes de seu potencial no futebol alemão faz tempo, desde a passagem pelo VfL Wolfsburg, mas Ekitiké é uma chegada relativamente recente e também tem impressionado bastante.

O atacante francês destacou-se inicialmente pelo Stade Reims, marcando dez gols na edição 21/22 da Ligue 1, antes de ser contratado pelo Paris Saint-Germain. A forte concorrência no clube da capital francesa minou os minutos de Ekitiké de maneira drástica e o atacante não foi capaz de repetir seu desempenho durante a temporada e meia em que esteve por lá: o Eintracht Frankfurt viu nessa situação uma oportunidade e assegurou o empréstimo do jogador durante a janela de inverno da temporada 23/24. O centroavante causou uma impressão tão boa em seus primeiros dias na Alemanha que o clube acionou a opção de compra disponível em seu contrato já em abril, dois meses após sua primeira partida pelas Águias.

Hugo Ekitiké chegou causando impacto imediato — Foto: Helge Prang/Getty Images

A nova temporada começou promissora para Ekitiké, uma vez que o atacante foi titular em cinco das seis partidas da Bundesliga até então (perdeu o confronto versus Holstein Kiel por motivos físicos) e tem dois gols marcados e duas assistências distribuídas. Considerando todas as competições (incluem a DFB Pokal e a UEFA Europa League), ele soma cinco gols e quatro passes para gol em apenas 526 minutos — uma média de um gol gerado a cada 58 minutos em campo, aproximadamente. Analisamos o jogador e o que ele é capaz de oferecer a sua equipe!

Posição e funções exercidas

Aos 22 anos, Hugo Ekitiké é um centroavante de 1.89m, de perfil esguio e passadas largas. Ao longo da atual temporada, tem atuado em uma dupla de ataque no 4-4-2 proposto pelo treinador Dino Toppmöller, inicialmente ocupando o setor direito do ataque, mas com bastante liberdade para alternar lados com Omar Marmoush.

Formação base do Eintracht Frankfurt 24/25

Essa liberdade é vista na maneira como o atacante cumpre diversas funções em campo, movimentando-se de acordo com cada uma delas, em sinergia com seu companheiro de ataque. O francês, por exemplo, por vezes recua centralmente para funcionar como pivô durante a construção de jogadas: essa não é sua melhor característica, mas podemos dizer que é algo que ele executa com eficiência e simplicidade. No exemplo abaixo, o atacante aproxima-se do campo de defesa com as costas voltadas para o gol adversário e recebe um passe direto de Tuta. Consciente de que o zagueiro adversário vem pressionando, solta um passe de primeira para o lateral direito, que recebe livre de marcação, com campo para correr.

Exemplo de apoio frontal realizado por Ekitiké — Foto: CazéTV/editada

Nesse tipo de situação, aparece melhor quando mantém a jogada com toques rápidos do que ao tentar sustentar contato e segurar a bola, uma vez que não se trata de um jogador muito forte. Ele mostra uma tendência forte em realizar passes de primeira, evitando dessa maneira contato físico em suas costas — por vezes, isso acaba gerando alguns passes errados e é uma área de jogo a ser trabalhada. Uma de suas assistências pelo clube aconteceu em jogada desse tipo: Ekitiké recebeu um passe de Marmoush e encontrou Larsson correndo pelo centro, colocando-o de cara com o goleiro adversário.

Exemplo de apoio frontal realizado por Ekitiké — Foto: Bundesliga/editada

No entanto, esse papel é predominantemente exercido por Marmoush, estando Ekitiké mais associado ao terço final do campo, realizando desmarques em profundidade com maior regularidade do que movimentos de apoio frontal. Dessa forma, torna-se comum vê-lo em posições mais avançadas do que seu par, muitas vezes próximo da última linha defensiva para romper no espaço vazio.

Exemplo de Ekitiké próximo a última linha, atacando em profundidade — Foto: Canal GOAT/editada

Além de ocupar o ponto cego do defensor mais perto de si, o atacante tem a mudança rápida de direção como uma de suas virtudes para criar espaço antes de finalizar. Ao iniciar o movimento em uma direção, conduz seu marcador a um lado antes de arrancar no sentido contrário, utilizando sua aceleração e orientação corporal para ganhar vantagem no lance.

Exemplo de desmarque com mudança de direção

Perfil físico

Um dos motivos para essa ser a função principal dele na equipe é sua capacidade atlética: o atacante destaca-se por ser um jogador explosivo, capaz de acelerar rapidamente, cobrindo campo com suas passadas largas e superando adversários em sprints constantemente, além de manter seu pico de velocidade por distâncias consideráveis. Segundo os dados oficiais da Bundesliga, Ekitiké atingiu uma velocidade máxima de 35.53km/h, um valor que o coloca dentre os dez jogadores mais rápidos da liga.

Maior velocidade máxima de jogadores da Bundesliga 24/25 — Reprodução: Bundesliga

Apesar de sua altura, o atacante não demonstra ser acima da média em jogadas pelo ar e geralmente permite-se ser dominado fisicamente por defensores. Ao longo de toda sua carreira profissional (apenas jogos por ligas nacionais), Ekitiké venceu aproximadamente 40% dos duelos que disputou, não sendo também o tipo de atacante que está costumeiramente envolvido em disputas desse tipo.

Movimentos de dentro para fora

Um outro tipo de movimento executado com bastante frequência por Ekitiké é o desmarque de dentro para fora, deixando regiões mais centrais para receber a bola próximo da linha lateral e explorar sua capacidade de drible (mais sobre isso logo à frente) e velocidade para vencer duelos individuais em direção à área adversária. Ele sente-se mais confortável recebendo a bola de frente para o gol e, portanto, é capaz de causar muito impacto dessa maneira, seja atacando a linha de fundo para realizar um cruzamento ou trazendo a bola para dentro antes de finalizar em direção ao gol.

Exemplo de movimentação de dentro para fora — Fotos: CazéTV/editadas

Dribles

Ao longo das últimas décadas, presenciamos o surgimento do falso nove, vimos uma mudança no perfil dos atacantes para jogadores espetaculares em transições ofensivas e agora uma nova tendência tem surgido: centroavantes altos, mas que apresentam uma capacidade de drible impressionante (a própria Bundesliga tem em Victor Boniface um exemplo dessa nova era de atacantes). Essa é justamente a característica mais marcante do jogo de Ekitiké: sua qualidade técnica e agilidade acima da média para executar dribles, seja em transição ou em espaços reduzidos. Uma das marcas registradas do jogador é o drible jogando a bola de um pé ao outro para então romper em velocidade, escapando de zonas de pressão ao desviar de possíveis desarmes.

Ekitiké dribla Anton e chega à linha de fundo para cruzar — Fotos: CazéTV/editadas

A qualidade de drible é determinante para o sucesso de suas ações e a maneira principal como Ekitiké gera oportunidades de finalização (para si mesmo ou para companheiros). Os números registrados por ele na atual temporada são impressionantes (8.46 dribles arriscados a cada 90 minutos, com quase 50% de acerto!!), mas pode-se argumentar que a baixa minutagem até aqui dificulta uma análise real de seu impacto. A tendência é que tais números caiam ao longo da temporada completa, mas o gosto pelo drible é algo que se pode observar em outros anos da carreira dele: utilizando a época passada como parâmetro e restringindo a busca a atacantes, percebe-se que ele mantém-se acima da média em volume e eficiência nessa métrica.

Volume e eficiência de dribles na última temporada

Conduções e impacto em transições ofensivas

A combinação de atributos físicos (passadas largas, aceleração, velocidade máxima) e técnicos (recurso em drible) de Ekitiké permite que ele carregue a bola por longas distâncias, conduzindo sua equipe ao campo ofensivo rapidamente e infiltrando a área adversária com a bola sob controle. Na sequência abaixo, por exemplo, o francês intercepta um passe ruim de Julian Brandt na intermediária defensiva, arranca deixando vários adversários caídos e aciona Marmoush infiltrando na área rival.

Exemplo de condução — Fotos: CazéTV

Tal combinação é também muito poderosa em transições ofensivas e a maneira como o Eintracht Frankfurt está estruturado potencializa esse tipo de situação. A equipe de Dino Toppmöller é um dos times da Bundesliga que menos troca passes por sequência de posse e também uma das mais diretas da competição. O gráfico abaixo indica o número médio de passes por sequência (eixo horizontal) e a velocidade com que levam a bola ao campo ofensivo (eixo vertical).

Estilo de jogo das equipes das cinco principais ligas da Europa — Reprodução: Opta/TheAnalyst

As Águias costumam adotar uma estrutura defensiva em 4-4-2 (Marmoush e Ekitiké como jogadores mais avançados), usualmente ocupando um bloco mais baixo, cedendo a posse (a média de posse de bola da equipe na atual temporada é de 39.5%, a segunda menor da liga alemã) e buscando quase sempre verticalizar jogadas quando recuperam a bola em seu campo de defesa. 

Estrutura defensiva em 4-4-2 do Eintracht Frankfurt — Foto: CazéTV/editada

A opção de Toppmöller por essa estratégia justifica-se pelas características de seus atacantes e tem dado muito resultado. Nenhuma equipe das cinco principais ligas europeias marcou mais gols em ataques diretos (5) do que o Eintracht Frankfurt até então, com o empate por 3-3 diante do FC Bayern representando bem as virtudes do time. Vejamos a origem do segundo gol: as Águias estão postadas no campo de defesa e retomam a posse após um cruzamento errado — Ekitiké dispara a correr em profundidade quando a bola é lançada para frente, vê Marmoush vencer um duelo individual contra o zagueiro adversário e posiciona-se para receber na área, finalizando e marcando um gol posteriormente.

Exemplo de corrida em transição ofensiva — Fotos: CazéTV/editadas

Ao recuperar a posse, o instinto inicial de Ekitiké é correr em direção ao campo de ataque para receber passes em profundidade. Ele não é tão participativo no momento defensivo, de modo que costuma ser a última peça da equipe, e conserva energia para contra-atacar: por enquanto, é uma ideia de Toppmöller que tem surtido bastante efeito. Cenas como essas são comuns durante as partidas das Águias: certamente ainda veremos muitos gols marcados dessa maneira ao longo da temporada, principalmente a partir das corridas ofensivos do francês. 

O sucesso do Eintracht Frankfurt no mercado

Contratar atacantes e potencializá-los, obtendo retorno técnico e também financeiro, tem sido uma das especialidades recentes do Eintracht Frankfurt (Haller, André Silva, Jovic, Kolo Muani...), que acertou novamente ao repor seu centroavante. A contratação de Hugo Ekitiké por um valor de 16 milhões e meio de euros já parece uma pechincha diante das primeiras exibições do atacante em solo alemão — mantendo esse ritmo e o nível de desempenho, poderá ser uma peça fundamental para que as Águias finalmente voltem a ocupar um posto dentre as quatro melhores equipes da temporada.

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