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Alemanha esbarra em seus velhos problemas e acaba eliminada

 Fim da linha para a Alemanha no Mundial

De 1954 até o tetracampeonato em 2014, no Brasil, a Alemanha esteve presente na segunda fase de todos os Mundiais. Sempre tida como uma das seleções mais tradicionais do futebol, poucas pessoas esperavam que ali se iniciaria um dos piores momentos da história do esporte no país: a Alemanha foi eliminada na fase de grupos em 2018 e tornou a repetir esse feito em 2022.

A Alemanha foi eliminada na fase de grupos - Foto: Ina Fassbender/Getty Images

Os problemas da Alemanha

A preparação durante o ciclo pré-Copa não foi o ideal: a seleção alemã alternou altos e baixos, fez uma campanha decepcionante nos campeonatos europeus que disputou e também trocou seu comando técnico, substituindo Löw por Hansi Flick. Apesar de tudo isso, existia uma expectativa de que a Alemanha pudesse desempenhar um bom papel no Qatar.

A participação alemã na fase de grupos, no entanto, deixou evidente o problema que tem atormentado a Alemanha recentemente: a falta de contundência nas duas áreas do campo. A partida inicial, contra o Japão, foi uma boa amostra de como seria a Copa do Mundo: os comandados de Hansi Flick fizeram um bom primeiro tempo, dominando as ações ofensivas e sofrendo pouco na defesa - apesar disso, um único gol foi marcado, de pênalti. Ali estava claro o primeiro problema: a dificuldade para transformar em gols suas chances criadas - ao término da segunda rodada, apenas a França criou mais oportunidades e gerou um número maior de expected goals do que a Alemanha (é bem provável que a fase de grupos se encerre com os alemães no topo dessa lista). Marcar dois gols nas duas primeiras partidas disputadas foi um desperdício e tanto.

Ao adotar uma postura mais agressiva, o Japão foi capaz de explorar o segundo problema da Alemanha: a incapacidade em lidar de maneira confiável com transições defensivas. É natural que um time que se preste a pressionar a saída de bola em campo contrário sofra alguns riscos (cada escolha tem seus pontos positivos e negativos, afinal), mas o time alemão sempre passou a sensação de que estava a um contra-ataque bem feito de sofrer gols. 

Esse cenário se repetiu nas partidas contra Espanha e Costa Rica, quando a Alemanha se mostrou uma equipe criativa, mas muito frágil ao se defender. Especialmente no segundo tempo contra a Costa Rica, os alemães mostraram um desespero e uma desorganização muito grande (fruto também das alterações promovidas por Flick, que acabou por deixar Kimmich sozinho no meio campo). A vitória acabou por vir, mas de nada adiantou diante do resultado favorável conquistado pelo Japão contra a Espanha - por ironia do destino, todos os gols japoneses na Copa foram marcados por jogadores que atuam na Alemanha. A derrota de virada na estreia foi o ponto chave para a eliminação.

Ausência de um atacante confiável e de defensores

Além dos problemas coletivos que Hansi Flick não conseguiu resolver, a Alemanha sofre com seu elenco: diversos nomes foram testados como referência no ataque (Müller, Werner, Gnabry, Havertz), mas nenhum se mostrou um atacante confiável em relação a gols. A esperança alemã - e talvez um dos melhores jogadores na Copa - era Niclas Füllkrug, (Werder Bremen, atual artilheiro da Bundesliga) que até o meio do ano estava disputando a segunda divisão e fez sua estreia pela seleção uma semana antes da Copa. 

Nomes como Werner (fora da Copa por lesão), Müller e Havertz sempre apresentaram um rendimento melhor quando atuaram junto a uma presença mais física dentro da área, alguém capaz de atrair a marcação, criar espaço e permitir o ataque ao espaço para quem chega de trás. Ainda assim, Flick não escalou Füllkrug, o mais próximo de um centroavante "puro", como titular em nenhuma das três partidas, nem testou tal possibilidade durante o período preparatório.

A nível individual, também não foi uma Copa boa do trio Antonio Rüdiger, Niklas Süle e Nico Schlotterbeck. Ainda que estivessem constantemente expostos, os três chegaram a cometer erros individuais, falhando em jogadas cruciais: contra o Japão, Süle foi pego mal posicionado na linha de impedimento em um dos gols e Schlotterbeck perdeu seu duelo contra o atacante. Neuer, outrora tão confiável, também esteve abaixo de seu nível habitual. A lateral direita segue um dilema: Süle, Kehrer e Kimmich, 3 jogadores que atuam primariamente em outra posição, atuaram por ali.

Renovar o elenco é necessário

O trabalho segue, no entanto, e Hansi Flick (caso permaneça no comando) vai ter trabalho para renovar a seleção. Já na entrevista após o jogo contra a Costa Rica, ele citou os problemas citados aqui.

"Precisamos melhorar o desenvolvimento dos jogadores. Há anos clamamos por centroavantes e laterais fortes. A defesa distinguiu o futebol alemão por anos e anos. Precisamos voltar a fazer o básico."

Um processo de formação leva décadas e encontrar um novo '9' não será tarefa fácil, já que boa parte dos atacantes mais jovens tem se caracterizado por serem jogadores mais móveis (incluindo Moukoko, uma das grandes esperanças alemãs, e Lukas Nmecha, titular na Euro U21) e nenhum deles mostrou faro de gol apurado até então (considerando o futebol profissional). Schlotterbeck tem tempo para evoluir e tem capacidade para estar entre os melhores do mundo, assim como Bella-Kotchap, mas os dois ainda carecem de experiência na elite do futebol mundial. Nas laterais, Raum foi uma grata surpresa e fez bom Mundial, mas o setor direito está abandonado desde a aposentadoria de Philipp Lahm. 

Experiência do elenco alemão (números anteriores a Copa)

Boa parte do elenco que disputou a Copa do Qatar terá uma idade avançada em 2026 e alguns deles, como Thomas Müller, talvez tenham encerrado seu ciclo nesse ano. A Eurocopa 2024, disputada na Alemanha, será uma boa oportunidade para testar novos jogadores e afirmar um processo de renovação, mas mudanças precisam acontecer de imediato.

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