Pesquisar

1960: o ano em que o Frankfurt fez a Alemanha sonhar com algo a mais

Na trave! Conheçam os times alemães que ficaram a um passo de conquistar a Europa. Parte 01

Foto/Reprodução: Hans-Dietrich Kaiser/Nordbild

Nem só de glórias é feito o futebol. A Alemanha, quarto país com mais títulos da Liga dos Campeões, também acumula algumas dolorosas derrotas nos campos europeus. Liderados pelo todo poderoso Bayern de Munique, os germânicos se acostumaram a vencer. Foram cinco títulos do Bayern, um do Borussia Dortmund e um do Hamburgo. Os três clubes de maior torcida são, com isso, responsáveis pelas sete conquistas alemães. Mas se três equipes alcançaram a maior glória do futebol europeu, três bateram na trave e quase tocaram no céu. Eintracht Frankfurt, Borussia Monchengladbach e Bayer Leverkusen estiveram a um pequeno passo do estrelato.

O Caminho:

Foto/Reprodução: Getty Images

O Eintracht Frankfurt foi a primeira equipe alemã a disputar uma final de Liga dos Campeões, anteriormente chamada de Copa da Europa. As águias alcançaram o feito inédito na temporada 59/60. Liderados por Erwin Stein, Erich Meier, Dieter Lindner e Alfred Pfaff, o super ataque alemão alçou o maior voo que uma equipe do seu país já havia conseguido, até então. Vindos de um título da Oberliga Sud da temporada anterior, o que garantiu ao Frankfurt a vaga na Copa da Europa, uma vez que só os campeões nacionais disputavam a competição,  a equipe foi atrás artilheiro Erwin Stein do SpVgg Griesheim.  A contratação de Stein foi um sucesso. Na sua primeira temporada com o Frankfurt o atacante alemão marcou inacreditáveis 43 gols em 37 partidas. Stein fez 22 gols a mais que o segundo maior goleador do Eintracht na temporada, Dieter Lindner.  

A equipe comandada por Paul Osswald chegou invicta a grande final. Para alcançar esse feito teve que passar por quatro adversários. A Copa da Europa não tinha fase de grupos e o torneio começava no round preliminar. O vencedor do round eliminar iria para o segundo round. Os que se mantinham na competição depois dos dois rounds disputavam as quartas de final, as semis e, por último, a grande final. A decisão da Copa da Europa era em jogo único, como funciona até hoje na Liga dos Campeões. 

O primeiro desafio da equipe dos alemães foi o Kuopion Palloseura, equipe campeã finlandesa. No round preliminar as águias venceram o Kuopion Palloseura por W.O. No segundo round, vitória sobre os suíços do Young Boys por quatro a um com gols de Weilbacher, Stein, Baumler (de pênalti) e Erich Meier. No jogo de volta, na Alemanha, empate por um a um. O autor do gol do Eintracht na partida foi Baumler, novamente de pênalti. Depois de eliminar o campeão finlandês e o campeão suíço, o time alemão chegou as quartas de final.

Nas quartas de final o Frankfurt enfrentou o Wiener Sport-Club da Áustria. No confronto mais equilibrado, antes da final, os alemães saíram em vantagem, vencendo o jogo de ida, em Frankfurt, por dois a um. Os gols da equipe auri-negra foram marcados por Lindner e Meier. Na partida de volta, em Viena, um a um. O gol que deu a classificação das águias para as semifinais só saiu aos 60 minutos, quanto Stein balançou as redes. 

O confronto mais tranquilo para a equipe alemã foi justamente a semifinal. Com um Waldstadion lotado com 75 mil pessoas, o time da casa goleou o Rangers por incríveis seis a um. Stinka, Stein, Pfaff (duas vezes) e Lindner (duas vezes) marcaram para o Frankfurt. Na partida de volta, em Glasgow, mais uma goleada: seis a três. Com gols de Lindner, Kress, Pfaff (duas vezes) e Meier (duas vezes) o Eintracht Frankfurt se tornou o primeiro clube alemão a disputar uma final de Copa da Europa. 

A grande final da temporada 59/60 foi disputada no Hampden Park, em Glasgow. Com mais de 127 mil pessoas nas arquibancadas o debutante Eintracht Frankfurt enfrentou o tetra campeão Real Madrid, a única equipe, até o momento, a já ter conquistado a Europa.

A Grande Final: 

Foto/Reprodução: Getty Images

Após passar por KuPs, Young Boys, Wiener Sport-Club e Rangers, o Eintracht Frankfurt fez história ao se tornar o primeiro clube alemão a disputar uma final do maior torneio de clubes da Europa. Na final, em um Hampden Park abarrotado o time de Frankfurt enfrentaria a maior equipe do planeta. O Real Madrid dos anos 50 e 60 era uma verdadeira máquina de títulos. Com um ataque que fazia o mundo tremer, o time merengue havia levantado a orelhuda quatro vezes nas primeiras quatro edições do torneio. Liderados por Puskás e Di Stéfano a equipe madrilenha até saiu perdendo, mas logo fez valer o seu posto de atual tetra campeão.

As duas equipes se organizavam em um 3-2-5. Comandados por pelo espanhol Miguel Muñoz o Real Madrid foi a campo com a seguinte escalação: Domínguez; Santamaría, Pachín e Marquitos; Zárraga e Vidal; Canário, Del Sol, Puskás, Gento e Di Stéfano. Já os alemães, comandados por Paul Osswald, foi a campo com: Loy, Lutz, Eigenbrodt e Hofer; Stinka e Weilbacher; Meier, Pfaff, Lindner, Stein e Kress.

Com menos de cinco minutos de partida o Eintracht Frankfurt conseguiu a primeira grande chance do jogo. Meier cobrou um lateral perto da linha de fundo, recebeu a bola e cruzou para a área. A bola fez uma curva e quase encobriu Domínguez. O goleiro argentino se esticou todo para salvar o primeiro gol da partida. Mas não demorou muito para o Rel Madrid retribuir o susto. Pouco tempo depois, Del Sol invadiu a grande área, deu uma caneta em Pfaff e quase driblou Loy. O goleiro alemão conseguiu atrapalhar o jogador merengue que recuou e cruzou mal, para ninguém. O time alemão ainda chegaria, mais uma vez, com perigo a meta madridista antes dos dez minutos de jogo. Aos nove, Eigenbrodt lançou Kress nas costas do zagueiro merengue. Kress ganhou na velocidade e cruzou rasteiro. A bola cruzou toda a área, até que Marquitos colocasse a pelota para a linha de fundo.

Eintracht Frankfurt dominou o jogo nos primeiros vinte minutos. O Real Madrid criou pouco e foi atacado sem parar. O jogo direto da equipe de Paul Osswald funcionou e a equipe alemã conseguiu explorar muito bem os lançamentos longos nas costas dos três zagueiros merengues. Kress infernizou Pachín no começo da partida, sendo a maior dor de cabeça do Real Madrid nos primeiros minutos de jogo. A superioridade do time alemão na partida foi recompensada com um gol aos 18 minutos. Kress ganhou uma dividida no meio-campo, passou para Lindner que lançou Stein. O atacante alemão levou a bola para a linha de fundo e cruzou rasteiro. Kress se adiantou ao goleiro merengue e abriu o placar. Um a zero Frankfurt.

Foto/Reprodução: Eintracht Frankfurt
Apesar do bom jogo, até então, a vantagem da equipe de Paul Osswald não durou muito. Nove minutos depois, Canário invadiu a grande área pela ponta direita e cruzou para Di Stéfano empatar a partida (a capa desse texto mostra o exato momento em que La Saeta Rubia empatou o jogo para o Real Madrid). Três minutos depois, Di Stéfano apareceu novamente. A defesa do Frankfurt tirou mal a bola cruzada na área, Del Sol pegou o rebote e passou para Canário. O brasileiro chutou, Egon Loy deu o rebote e Di Stéfano não perdoou. Dois a um Real Madrid.

Mesmo após a virada o Eintracht Frankfurt continuou jogando bem e levando perigo a meta de Domínguez. Por volta dos 33 minutos, Meier perdeu uma excelente chance de igualar o marcador. O camisa 11 recebeu um bom cruzamento de Stein mas jogou para fora. Com o Frankfurt saindo mais para o jogo e com o Real Madrid apostando nos seus ferozes contra-ataques, parecia uma questão de tempo até que um dos dois times anotassem mais um gol.  A equipe merengue levava muito perigo pela ponta direita. Canário era bastante acionado, causando estrago no três zagueiros do Frankfurt. Aos 45 minutos, o Real Madrid, que já havia acertado a trave de Loy cinco minutos atrás, chegou ao seu terceiro gol na partida, O autor do tento foi Ferenc Puskás. O major galopante roubou a bola da defesa alemã e acertou um belo chute, sem chances para Loy. Três a um Real Madrid e intervalo de jogo.

O segundo tempo começou como terminou o primeiro: com gol de Puskás. O húngaro foi lançado em velocidade por Gento mas acabou perdendo na velocidade e no corpo de Lutz. Apesar da dividida ter sido absolutamente normal, o árbitro da partida marcou pênalti a favor dos tetra campeões. Puskás foi para a cobrança e marcou o quarto do Real Madrid e o seu segundo no jogo. E não demorou muito para que o major galopante anotasse o seu terceiro gol no jogo. Aos 60 minutos Gento foi lançado e cruzou para o camisa 10 madridista completar de cabeça. E o húngaro estava impossível. Onze minutos depois, aos 71, ele marcou o seu quarto gol no jogo ao acertar um lindo chute no ângulo direito de Loy. Com seis a um contra, nem o gol de Stein, um minuto depois, foi capaz de recolocar o Frankfurt na partida. E Di Stéfano fez questão de lembrar os alemães disso. Aos 72 minutos a lenda madridista fez o sétimo do Madrid e o seu terceiro na partida. Stein fechou o marcador ao anotar o seu segundo e o terceiro do Frankfurt dois minutos depois.

Foto/Reprodução: Arquivo UEFA
A derrota para um dos maiores times da história do futebol não apequenou a campanha memorável do Frankfurt. Ser o primeiro clube alemão a decidir uma final continental é um título único e inestimável. Enfrentar a maior dupla de ataque que a Europa já viu e em uma noite monumental só faz com que as águias se orgulhem ainda mais do seu feito. Parar Gento, Canário, Di Stéfano e Puskás foi algo que apenas poucos conseguiram. A história escrita pela equipe de Paul Osswald foi inspiração para milhões de alemães durante o tempo. O sonho de ver um clube do seu país conquistar a Europa perdurou nos seus corações até que, em 1977, o Bayer de Munique trouxesse o título para a Baviera. Todo sonho, toda conquista e toda a história tem um começo. A da Alemanha em finais europeias tem o seu em Frankfurt, a casa dos pioneiros.



























Postar um comentário

0 Comentários